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Foto do escritorJanaína Botelho

PROJETO PIABANHA: UM BERÇÁRIO DE PEIXES



O Rio Paraíba do Sul nasce ao sul da Serra da Bocaina e da Mantiqueira, no estado de São Paulo e deságua no oceano atlântico na localidade de Atafona, em São João da Barra, no Estado do Rio de Janeiro. Ocupando um bioma marcado pela Mata Atlântica, percorre um total de 55.300 km², sendo que sua bacia drena 24% das terras paulistas (13.272 km2), 39% das terras fluminenses (21.567 km2) e 37% das mineiras(20.461 km2). Localizado entre os maiores centros urbano-industriais do país, abriga uma alta biodiversidade que está sendo ameaçada. A degradação ambiental da bacia do Rio Paraíba do Sul tem início no século 17, quando se iniciou a devastação da cobertura vegetal para implantação da cultura da cana de açúcar no Vale do Paraíba paulista e em Campos dos Goitacazes, no estado do Rio de Janeiro. A deterioração foi intensificada no século 19, nas regiões do alto e médio Paraíba, com o ciclo econômico do café. Na última década daquele século, a cultura cafeeira entra em decadência em razão da terra improdutiva pela falta de adubação e de braços na lavoura.


Os morros outrora repletos de pés de café se transformam em pastagens de gado bovino. A redução da área original de cobertura vegetal do vale do Paraíba do Sul acarretou o surgimento de problemas originados pela erosão acelerada dos morros, assoreamento de rios e perda da fertilidade do solo. Até a primeira metade do século 20, a atividade econômica da bacia se limitava a agropecuária. A partir de 1940, a situação do Paraíba do Sul vem se agravando em função dos assentamentos urbanos, da atividade industrial e de mineração, destruição das matas ciliares e o lançamento de esgotos domésticos e industriais, sem tratamento, ameaçando diversas espécies aquáticas. De acordo com a Agência Nacional de Águas, uma das maiores fontes de poluição dos recursos hídricos da bacia decorre do baixo percentual de tratamento dos esgotos coletados. Em relação aos dejetos industriais lançados no Rio Paraíba do Sul, mesmo estando as atividades industriais enquadradas na legislação ambiental, o monitoramento dos poluentes gerados pelas indústrias são ineficazes.


As barragens são outro grave problema, pois limitam a livre movimentação de espécies nativas migratórias, impedindo o seu acesso a áreas fundamentais para seu ciclo de vida, a piracema. Infelizmente existe a previsão da construção de mais de cem novas grandes e pequenas barragens na calha principal do rio, assim como nos seus principais afluentes. Isso pode provocar o desaparecimento de grande parte das espécies de peixes nativas da bacia e riscos para espécies já ameaçadas, como o surubim-do-paraíba e a piabanha. Todos esses fatores citados acarretaram alteração do seu hábitat. São aproximadamente 40 espécies ameaçadas de extinção como peixes, lagostas, camarões de água doce, do cágado, entre outros. Estima-se que o Rio Paraíba do Sul possuía cerca de 127 espécies de peixes, das quais 115 nativas e 12 introduzidas. Das espécies nativas, nove constam da Lista Oficial de Espécies Ameaçadas. Embora todo esse quadro traga pessimismo quanto ao futuro do Rio Paraíba do Sul, uma boa notícia.


Em função desses impactos em sua bacia surge o Projeto Piabanha, um consórcio que reúne diversas instituições do governo a nível federal e estadual e pesquisadores de algumas universidades. Tem como plano de ação a recuperação das espécies ameaçadas de extinção da bacia do Rio Paraíba do Sul. O projeto se desenvolve no município de Itaocara, no noroeste fluminense. Fui visitar esse verdadeiro berçário de peixes. No local, peixes como o piabanha, o surubim do paraíba, o curimatã, entre outros, procriam em tanques e lagos até chegar a uma fase relativamente adulta, quando são então depositados na calha do Rio Paraíba do Sul. Fui recebida pelo simpático biólogo Guilherme Souza, diretor técnico do Projeto Piabanha que me explicou todo o processo. A visitação pode ser feita por escolas e mesmo por particulares, desde que previamente agendadas. Não dá para citar todos os órgãos de pesquisa envolvidos, mas pode-se afirmar que um trabalho como esse traz alento quando se analisa o processo histórico de exploração de toda a extensão do Rio Paraíba do Sul. E não mencionei os desastres, a exemplo de acidentes nas indústrias e nas estradas, que despejaram produtos químicos no tão maltratado Rio Paraíba do Sul. Mas isso, é uma outra história.



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