A história da Fazenda Santana ganha importância em meados do século 19, com Augusto de Sousa Brandão, o segundo barão de Cantagalo. O seu pai, José de Souza Brandão, o primeiro barão, solicitou uma sesmaria, em Cantagalo, justificando ter posse e meios para cultivar. Falecido em 1857, do seu casamento com Josefa Maria de Souza Brandão teve 6 filhos. Um deles Augusto de Sousa Brandão que se formaria médico e seria proprietário da Fazenda Santana, recebendo o título de segundo Barão de Cantagalo. Coronel da Guarda Nacional, exerceu as funções de delegado, juiz de paz, vereador e presidente da Câmara Municipal pelo Partido Liberal. O seu envolvimento com a política era significativo ainda que exercendo as atividades de médico e agricultor. No registro paroquial exigido pela Lei de Terras, em 1856, declarou que possuía 16 alqueires de terras com plantação de milho, localizada no Ribeirão da Taquara. Casa-se com a viúva Francisca Candida de Gouveia e com ela tem dois filhos. A partir de então, amplia o seu patrimônio adicionando o da viúva. Na Fazenda Santana fazia experiências plantando diversas espécies de café. Além do tradicional tipo denominado de java, plantava o maragojipe, liberia, marta e amarelo, enviando relatórios ao Jornal do Agricultor de suas experiências. Na década de 1880, o segundo Barão de Cantagalo pede ao Banco Predial um empréstimo de 450 contos de réis, dando a Fazenda Santana como garantia. Três anos depois, ainda não saldando a sua dívida com o banco, faz um novo empréstimo com João Miranda e Companhia no valor de 237 contos de réis. Nessa ocasião, a Fazenda Santana tinha uma dimensão aproximada de 800 alqueires de terras, com um milhão e quinhentos mil pés de café. O trabalho era feito por 295 escravos, um número bem significativo, pois grandes propriedades na época tinham em média 120 escravos. Para o historiador Clélio Erthal a falência do barão de Cantagalo deve-se ao fim do trabalho escravo, já que o mesmo imediatamente após a abolição ingressou no partido republicano, culpando o regime monárquico pela sua miserável situação financeira. O segundo Barão de Cantagalo faleceu entre os anos 1889 e 1900, deixando a Fazenda Santana bem endividada. Ainda de acordo com o pesquisador Clélio Erthal, o filho do segundo barão da Cantagalo, Augusto Brandão Filho, solicitou empréstimo a José Heggendorn Monnerat, dono de diversas fazendas, para saldar as dívidas do pai. José Monnerat não fez o empréstimo, pois sabia que indo a leilão, iria adquirir a Fazenda Santana por preço bem inferior ao valor solicitado por Augusto Brandão Filho. E foi o que aconteceu. Arrematou-a no ano de 1900, em leilão em praça pública por uma quantia muito inferior ao montante que lhe fora pedido a título de empréstimo. Empreendedor, trouxe colonos para a Fazenda Santana e pagou o valor da fazenda com a sua própria colheita no mesmo ano em que a arrematou. A fazenda ficou em nome da firma Monnerat, Lutterbach & Cia. que atuava como comissária e ensaque de café no Rio de Janeiro. Os Monnerat e Luterbach são descendentes de colonos suíços estabelecidos em Cantagalo. Na partilha da família, a Fazenda Santana ficou pertencendo a Sebastião Monnerat Lutterbach que manteve a produção de café, mas a diversificou com a lavoura branca e criação de gado leiteiro da raça guzerá, uma tradição entre os Lutterbach que trouxeram essa raça da Índia. Sebastião Monnerat fez mais ainda, montou na fazenda uma fábrica de laticínios produzindo manteiga, queijo e requeijão com a marca Santana. O tetraneto de Sebastião, o médico Renato Monnerat, fez um esforço para adquirir há alguns anos atrás a Fazenda Santana, objetivando manter a memória familiar. Fui visitar essa fazenda e logo de início uma surpresa. Impossível imaginar que a atual sede fosse a mesma do tempo do segundo Barão de Cantagalo. De fato, não é. A sede da fazenda é bem diferente da atual e representa uma mínima parte do que fora no passado. Curiosamente, tinha no passado uma estrutura física bem diferente das fazendas do Segundo Reinado. Dos oitocentos alqueires essa propriedade foi desmembrada em diversas fazendas e hoje dificilmente encontraremos fazendas do período do Império, nessa região, com essas dimensões. Não é atualmente uma unidade produtiva por dificuldade de se encontrar mão obra para o trabalho na lavoura. O êxodo rural impossibilita que possa se cultivar qualquer produto. A Fazenda Santana tinha um engenhoso sistema de captação e distribuição de água para dar contar da lavagem dos grãos dos milhão e quinhentos mil pés de café. Outra engenhosidade foi a construção de uma hidrelétrica para suprir a necessidade de prover energia na fazenda.
A Fazenda Santana atualmente encontra-se na propriedade do médico Renato Monnerat que descende de um único tronco familiar dos Monnerat. A história de sua família remonta ao princípio do século 19, quando François Xavier Monnerat, sua esposa e sete filhos partiram da Suíça, chegando ao Rio de Janeiro em fevereiro de 1820. Seguiram para a Vila de Nova Friburgo se estabelecendo na colônia de Suíços. Em 1837, dezessete anos após a sua chegada à Vila de Nova Friburgo, os Monnerat adquirem uma fazenda em Cantagalo para lá se deslocando e trabalhando como tropeiros. Após casamentos com descendentes de colonos suíços de outras famílias e igualmente interfamiliares, os Monnerat, no final do século 19, são uma das maiores fortunas da região. Em Cantagalo, o auge da plantação de café foi aproximadamente entre as décadas de 1840 e 1870, apresentando a partir de então um acentuado declínio. Terras cansadas, sem adubagem, cafeeiros velhos e menos produtivos. Afirmava-se que um cafeeiro com mais de vinte anos produzia pouco e quando atingem a idade de vinte e cinco anos já são considerados velhos. Já outros afirmavam que a colheita não era remuneradora nos cafeeiros depois de quinze anos. Em Cantagalo, em 1877, a decrepitude dos cafezais já ameaçava a fortuna dos fazendeiros. Igualmente a mão de obra escrava parecia envelhecida e um escravo custava caro em razão do fim do tráfico intercontinental. De acordo com o historiador Stanley Stein, fazendas em condições mais favoráveis conseguiam manter o equilíbrio comprando maquinaria para compensar a mão-de-obra escrava envelhecida e ineficiente. Porém, os fazendeiros com dívidas contraídas com a compra de escravos, efetuada durante os anos de prosperidade, assim como aqueles que fizeram dívidas para adquirir maquinaria, tiveram que enfrentar um mercado de capitais cada dia pior, entre as décadas de 1870 e 1880. Parece ter sido esse exatamente o caso do segundo barão de Cantagalo. Contraíra dívidas com diferentes credores não conseguindo honrar seu compromisso, dando Fazenda Santana como garantia. Essa fazenda tinha 800 alqueires e possuía um milhão e quinhentos mil pés de cafés. Cantagalo sofria igualmente problemas ambientais que iria se refletir na lavoura. O uso do machado, do fogo e da enxada, a devastação dos morros cobertos de mata virgem para o plantio do café provocou mudanças climáticas, como a irregularidade das estações e menos chuva. Um fazendeiro de Cantagalo analisou a psicologia comum da segunda geração de produtores de café. O cafeeiro “é feito para dar dinheiro, e não uma cultura que possa dar emprego e felicidade às gerações futuras.” Não se preocuparam com a adubagem do solo que foi gradativamente empobrecendo. Nos morros terras empobrecidas com sinais de erosão. Ainda que não localizando nenhum trabalho acadêmico que demonstre que o segundo Barão de Cantagalo plantara um milhão e quinhentos mil pés de café na Fazenda Santana, examinando o terreiro de café, cujas pedras ainda assentadas sobre o solo são o seu testemunho, podemos afirmar que a produção de café dessa fazenda provavelmente atingiu tais números. Percorrendo a Fazenda Santana, tem-se a noção de sua de sua fase de esplendor através dos imensos chafarizes, extensos pomares, pedras talhadas em cantaria, e outras estruturas que só se sabe através da memória familiar como os lindos jardins de inverno. O café produzido na Fazenda Santana seguia em tropas de mulas até a estação “chave de Santana”. Esse pontilhão de ferro fica próximo à essa estação que hoje não existe mais. O fato da linha de trem passar pela Fazenda Santana denota a importância dessa unidade de produção de café, no século 19. Passei o dia inteiro na Fazenda Santana escutando relatos sobre a sua estrutura econômica, o seu cotidiano, e de como foi a transição dessa propriedade entre o filho do segundo Barão de Cantagalo, Augusto Brandão e José Monnerat. Igualmente preciosas informações de como foi a administração de Sebastião Monnerat Lutterbach narradas por seus bisnetos, o médico Renato Monnerat e o empresário Sérgio Monnerat. Suas fontes são a memória familiar e documentos da Fazenda Santana que dão uma grande contribuição para entendermos como foi a transferência de fortuna e poder dos outrora barões do café e dos descendentes de colonos suíços. A Fazenda Santana na gestão do segundo barão de Cantagalo era provavelmente uma das maiores unidades de produção de café do Brasil. Tornou-se igualmente notória na gestão do coronel Sebastião Monnerat Lutterbach com a criação do gado zebu. Na sua administração a fazenda manteve os 800 alqueires da época do barão e voltou-se a criação de gado leiteiro da raça zebu, possuindo um plantel de 500 cabeças. Daí originou uma fábrica de laticínios na própria fazenda, fabricando manteiga e requeijão com a marca Santana. Essa atividade não impediu a produção de alimentos e cultivo do café, mas a pecuária estava no DNA dos Lutterbach. Na primeira exposição agropecuária fluminense, em 1921, realizada em Cordeiro, os descendentes de colonos suíços se destacam com o gado de raça pura e de qualidade. Augusto de Sousa Brandão, o segundo Barão de Cantagalo, José Heggendorn Monnerat e Sebastião Monnerat Lutterbach, foram três homens de grande importância na história de uma das maiores fazendas, talvez a maior produtora de café no Segundo Reinado: a Fazenda Santana.
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