Visitei a Fazenda Santa Inês, em Paraíso do Tobias, segundo distrito do município de Miracema. Trata-se de uma propriedade rural que passou por múltiplos ciclos econômicos como do açúcar, do café e do algodão, além da rizicultura paralelamente ao cultivo desse último. Atualmente sua atividade econômica está voltada para a pecuária de leite e de corte. A pesquisa dessa propriedade nos permite conhecer, através de uma análise da micro história, todo o processo econômico do noroeste fluminense. A história da Fazenda Santa Inês tem início com a família Monteiro de Barros, naturais de Andrelândia, Minas Gerais, município com base econômica na mineração. No início do século 19, Antônio Bernardino de Barros era proprietário da sesmaria das Três Ilhas, hoje São José das Três Ilhas, distrito de Belmiro Braga, em Minas Gerais. Amealhou imensa fortuna com a atividade agrícola e dois de seus filhos, igualmente prósperos fazendeiros, foram agraciados pelo Imperador D. Pedro II com os títulos de Barão de São José D’El Rey e Barão das Três Ilhas. A partir do final do século 18, houve uma vaga de imigração de mineiros e de portugueses da Ilha da Madeira e dos Açores para o noroeste fluminense. A família Bernardino de Barros é um desses exemplos. Aproximadamente no ano de 1870, quatro dos Bernardino de Barros adquiriram propriedades na província fluminense, o que seria hoje o município de Santo Antônio de Pádua. Entre eles, Francisco Bernardino de Barros, proprietário da sesmaria Fazenda Santa Inês. O declínio da mineração em Minas Gerais pode ter sido um dos fatores da emigração dessa família. Francisco possuía ainda outras fazendas como Mantinéia, Pyrineus, Prosperidade, Santana, União, Santiago e São Felipe, administrada por seus filhos. Na Fazenda Santa Inês possuía lavoura extensiva de café, cana-de-açúcar e de milho. No engenho construído em sua propriedade a usina produzia açúcar e álcool. Residindo em uma morada de pau a pique, iniciou a construção de uma casa de vivenda para maior conforto da família. No entanto, ocorre a abolição da escravidão e a evasão dos escravos da fazenda. Nos parece que Francisco Bernardino fica sem mão-de-obra para a colheita das próximas safras de café e de açúcar. Descontente com a maneira como foi conduzido o fim do trabalho escravo, Francisco Bernardino retorna à sua Fazenda Três Ilhas, em Minas Gerais, falecendo pouco tempo depois. No ano de 1902, a Fazenda Santa Inês passa a ser de propriedade de Antônio Ventura Coimbra Lopes e de seu irmão mais velho José Ventura Lopes, igualmente mineiros. Antônio Lopes tinha apenas 12 anos de idade quando para lá se mudou com o seu irmão. A Fazenda Santa Inês possuía 120 alqueires geométricos. Os irmãos Coimbra Lopes adquiriram outras terras nas proximidades, anexando à fazenda aproximadamente mais um mil hectares. Nessa ocasião, o trabalho nas fazendas era executado por colonos e o contrato de trabalho em regime de parceria, recebendo o proprietário um terço da produção. Mais de cem famílias residiram na Fazenda Santa Inês havendo uma escola para a educação dos filhos dos colonos. A população era estimada em cerca de mil pessoas, distribuídas em aproximadamente cento e vinte casas de colonos existentes ao longo da propriedade. Era uma verdadeira cidadela existindo uma venda onde faziam compras e eram feitos negócios e transações entre os proprietários da fazenda e os colonos. No campo da sociabilidade havia um salão de bailes, espaço para jogar raia de malha, realizar festas juninas, do boi pintadinho e do mineiro pau. Muitos colonos dessa fazenda se estabeleceram posteriormente como pequenos proprietários rurais autônomos e no comércio, fruto de suas economias no trabalho do campo. Sob a administração de Ventura Lopes a Fazenda Santa Inês produzia em grande escala café, cana-de-açúcar, milho, feijão e arroz. Na crise econômica mundial de 1929, com a consequente queda no preço do café, a Fazenda Santa Inês passa a ser grande produtora de algodão, superando as outras culturas agrícolas. Abastecia as fábricas de tecelagem das regiões norte e serrana do Estado do Rio de Janeiro, inclusive a tradicional Fábrica de Tecelagem São Martino, em Miracema. Na segunda década do século 20, o segundo distrito de Miracema dava enorme contribuição para os cofres públicos do município de Santo Antônio de Pádua, não recebendo, em contrapartida, investimentos na localidade. Isso acarretou um descontentamento da população daquele distrito e no ano de 1906, inicia-se uma campanha separatista de Miracema do município de Santo Antônio de Pádua.
A Fazenda Santa Inês foi uma propriedade rural do século 19, que passou pelos ciclos econômicos do açúcar, do café e do algodão, além da rizicultura paralelamente ao cultivo desse último. Da Fazenda Santa Inês resta apenas a parte central do engenho e a chaminé, construídos por volta de 1870, e que abrigavam um monjolo, máquinas de beneficiamento de café, arroz, milho, açúcar e produção de álcool. Na segunda década do século 20, o segundo distrito de Miracema dava enorme contribuição aos cofres públicos do município de Santo Antônio de Pádua, não recebendo, em contrapartida, investimentos na localidade. Isso acarretou um descontentamento da população daquele distrito e no ano de 1906, inicia-se uma campanha separatista de Miracema em relação a esse município. O capitão Antônio Ventura Coimbra Lopes, proprietário da Fazenda Santa Inês, foi vereador e prefeito de Santo Antônio de Pádua e um dos líderes do movimento separatista. Depois de três décadas de campanha, em 03 de maio de 1936, finalmente Miracema se torna um município independente. Desde o mês de março de 1996, até os dias atuais, a Fazenda Santa Inês foi objeto de aparições de Nossa Senhora que vêm deixando inúmeras mensagens e concedendo graças, muitas delas reveladas em depoimentos dos agraciados. Uma gruta foi escavada na rocha ali existente por indicação de Nossa Senhora, em locução interna, a uma vidente. No local das aparições foi edificado um santuário dedicado a Nossa Senhora Mãe do Imediato Consolo e igualmente uma capela, ambos franqueados à população nas procissões e ritos religiosos. A história da Fazenda Santa Inês não cessa em surpreender. No ano de 2011, um sítio arqueológico foi localizado nessa propriedade na superfície rochosa de um córrego. Foram identificadas marcas de polimento e de amolação no local. Provavelmente estas marcas estão relacionadas a fabricação de machados líticos. Ao que tudo indica, pertencia a população indígena da etnia Puri. Com essa descoberta, pode-se possivelmente encontrar algum sítio de habitação que forneça informações sobre o padrão de subsistência, as tecnologias usadas, as formas de moradia e caso haja sepultamento, conhecer-se sobre a morfologia do corpo humano das tribos que habitaram a região. O advogado Roberto Monteiro Ribeiro Coimbra Lopes, atual proprietário da Fazenda Santa Inês, para preservar a sua rica história fez a doação dos livros contábeis da fazenda ao arquivo municipal Centro Cultural Melchiades Cardoso. Criou igualmente o Centro de Cultura e Memória da Fazenda Santa Inês. O acervo compreende mobiliário, livros, documentos, fotografias, utensílios domésticos, instrumentos rústicos, equipamentos manuais de trabalho do campo e objetos indígenas do sítio arqueológico descoberto na fazenda. Inúmeras peças de castigos de escravos fazem parte desse acervo. Uma peça rara me chamou a atenção no memorial. Um tronco de madeira utilizado para prender vários escravos pelo pescoço, uma forma bem arcaica denominada de libambo, que depois foi substituída por argolas de ferro. Através da memória oral há a informação de que houve uma rebelião de escravos na Fazenda Santa Inês e que mantiveram acurralados os membros da família no interior da casa-sede. Dois ou três escravos que haviam se insurgido contra a rebelião foram mortos pelos companheiros de cativeiro. Um dos parentes do fazendeiro negociou com os revoltosos conseguindo pôr fim à rebelião. O Centro de Cultura e Memória da Fazenda Santa Inês possui o projeto “O Museu itinerante vai até você”. Mediante contato pelo telefone 22 992435040, pode-se solicitar o acervo do Centro de Cultura e Memória da Fazenda Santa Inês para uma exposição de seu valioso acervo.
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