O Barão das Duas Barras
Fazenda do Canteiro, em Trajano de Moraes. A história dessa propriedade está relacionada com a família mineira Moraes. João Antônio de Moraes, que viria a ser o primeiro Barão das Duas Barras, nasceu em 1810, em Piedade dos Gerais, termo do Bonfim, província de Minas Gerais. Era o décimo filho de doze irmãos, nascidos e criados na província mineira. Deixou a terra natal se mudando para Cantagalo, no princípio do século 19. Viria a se casar com a cunhada, Basília Rosa da Silva, nascida em 1802. O primeiro casamento de Basília foi com o seu irmão, Antônio Rodrigues de Moraes. Dessa união tiveram 5 filhos. No entanto, quando Antônio Rodrigues foi eleito vereador em 1833, na Câmara Municipal de Cantagalo, foi assassinado naquele mesmo ano. Basília, com 30 anos, viu-se sozinha para cuidar de suas terras e dos seus cinco filhos. O irmão solteiro do falecido Antônio Rodrigues, João Antônio de Moraes, com 23 anos, que já residia em Cantagalo, se casa com a cunhada, se encarregando do trabalho na lavoura e criação dos sobrinhos. Antes mesmo do casamento oficial, realizado em 17 de agosto de 1835, na Fazenda Santa Maria do Rio Grande, o casal já tinha uma filha, tendo mais quatro filhos após o casamento. Segundo a historiadora Marieta de Moraes Ferreira, o plantio do café em Cantagalo permitiu uma extraordinária expansão econômica a João Antônio de Moraes. Em razão disso, em 1867, obteve o título de Barão das Duas Barras. Dezenove fazendeiros dessa região receberam como ele, títulos nobiliárquicos. A documentação relativa aos bens dos Barões das Duas Barras indica que apenas 1/3 de sua fortuna correspondia a terras, escravos e pés de café. Os outros 2/3 representavam dívidas ativas, ou seja, empréstimos a outros fazendeiros ou parentes, e dinheiro em caixa, depositado em bancos ou nas casas comissárias. Uma série de escrituras de confissão de dívida emprestando dinheiro a juros, comprova a atividade usurária do primeiro Barão das Duas Barras. João Antônio de Moraes teve negócios com Antônio Clemente Pinto, o primeiro Barão de Nova Friburgo. No final do século XIX, quase todas as propriedades rurais do centro-norte fluminense se encontravam em dificuldades financeiras. Terras sem adubagem por décadas, com cafeeiros improdutivos, e o fim da mão de escrava acarretaram a migração de quase todas as fazendas para a pecuária de leite e de corte, inclusive dos descendentes do primeiro Barão das Duas Barras. João Antônio de Moraes chegou a possuir 22 fazendas, sendo elas, Santa Maria do Rio Grande, Macabu, Barra, Bonança, Boa Esperança, Coqueiro, Córrego Alto, Engenho da Serra, Engenho Velho, Freijão, Glória, Grama, Monte Café, Neves, Olaria, Paraíso, Ribeirão Dourado, Sant’Alda, São Lourenço, Sobrado, Rio São João, em Minas Gerais e a Fazenda do Canteiro. Aproximadamente mil escravos trabalhavam nessas 22 fazendas. Em virtude da Lei de 1850, conhecida como Lei Euzébio de Queiroz, que abolia o tráfico intercontinental de escravos, era evidente que o trabalho realizado por cativos estava com os dias contados no Brasil. João Antônio de Moraes foi um dos raros fazendeiros que se prepararam para o fim da escravidão. Libertou antecipadamente alguns escravos, lhes doou pés de café e terras, bem como a quarta parte de uma sesmaria em sua Fazenda Santa Maria do Rio Grande. Garantiu com esse gesto, que com o fim da escravidão, mantivesse os libertos em suas propriedades como trabalhadores rurais. Por isso, de acordo com a memória familiar, se diz que nas fazendas dos Moraes, os escravos não foram embora quando veio a libertação. Em toda a sua vida, o primeiro Barão das Duas Barras teve costumes patriarcais mineiros. A sua mesa era mineira, frugal e abundante. Nela apareciam regulamente a canjica, as pipocas, a couve mineira, o caldo de unto e a rapadura. Preferia a calça e a camisa de brim mineiro aos finos tecidos importados. Manteve-se um homem rural que não se urbanizou. Não construiu residências nas vilas e não ocupou cargos públicos. Nunca mandou fazer um brasão e não chegou a ter louças e cristais com o seu monograma. No máximo, teve um aparelho de chá de prata gravado com suas iniciais e fez-se retratar, assim como à baronesa. João Antônio de Moraes faleceu no ano de 1883, e sua esposa Basília no ano seguinte. Em seu testamento pediu para ser sepultado no cemitério da fazenda Santa Maria do Rio Grande e o seu corpo transportado pelos escravos mais velhos.
O aqueduto e a roda do moinho
João Antônio de Moraes viria a ser o primeiro Barão das Duas Barras. Nascido em 1810, era originário da província de Minas Gerais, tendo migrado para Cantagalo, no início do século XIX. No ano de 1867, obtém o título nobiliárquico de Barão das Duas Barras em razão da fortuna que acumulara ao longo de décadas, possuindo 22 fazendas. Cerca de 1/3 de sua fortuna correspondia a terras, escravos e pés de café. Os outros 2/3 representavam dívidas ativas, como a atividade usurária com empréstimos aos fazendeiros e aos parentes. A Fazenda do Canteiro foi uma das propriedades do Barão das Duas Barras. A casa sede dessa fazenda é típica do centro norte-fluminense, do Segundo Reinado, construída de maneira simples, sem a opulência das casas sedes de fazenda do município de Vassouras. As paredes são de pau a pique, tingidas com cal branca. Tem grande destaque na fazenda o aqueduto do século XIX, pelo qual passa a água vinda dos morros, movimentando os engenhos e a roda d´água. Próxima à casa sede da fazenda está localizado o moinho para a fabricação de farinha de fubá e da canjiquinha. O moinho ainda conserva a pedra açoriana. A roda do moinho é movimentada por uma tubulação que conduz a água das canaletas. A roda d’água permanece em seu local de origem e tem plenas condições de funcionamento, bem como toda a canalização do aqueduto necessária para mover a roda. Encontram-se ali, também, as engrenagens de tração da usina e algumas máquinas de moer. A água desce pelas canaletas de pedra, atravessando a mata, até atingir o lago de piscicultura, as caixas de limpeza e o antigo tanque de lavagem de café, de onde segue para percorrer o aqueduto. O café já lavado era levado para o tanque de recolhimento a fim de ser espalhado no terreiro de secagem. A captação de água se fazia no passado nos morros mais altos, atrás da mata, sendo coletada a partir de várias nascentes através de uma banqueta. Foram construídos diversos açudes na fazenda para garantir a reserva nos meses mais secos. Quando a água do açude transborda, ela é coletada para o antigo sistema de banquetas, refazendo todo o percurso existente há mais de um século. Na segunda década do século XIX, a região serrana fluminense, outrora Sertões do Macacu, já estava quase todo ocupado por agricultores mineiros, dos Açores e da Ilha da Madeira, em Portugal. Com o avanço da cultura cafeeira, a região de Cantagalo experimentou um surto de progresso sem paralelo em sua história. A mata cedia lugar às lavouras, com a substituição da pujante flora nativa pelos arbustos de café. Em razão do cultivo do café, Cantagalo passa a possuir um dos maiores plantéis de escravos do país, e consequentemente se tornar um dos maiores fornecedores daquele produto, gerando uma nobreza local. A Fazenda do Canteiro vai do pequeno povoado de Barra do Canteiro até a Serra das almas. A terra é fértil sendo denominada de argila arenosa. Ao longo do caminho, é possível observar o relevo acidentado que caracteriza a paisagem da região. Ocasionalmente, nos deparamos com imensos paredões rochosos. Pelas encostas escorrem expostas abundantes quedas d’águas provenientes das nascentes e lençóis aquíferos, os quais alimentam os rios e córregos da região, como o Córrego das Neves. A casa de vivenda da Fazenda do Canteiro recebeu intervenções ao longo dos anos, as quais alteraram a sua volumetria, bem como a divisão interna dos ambientes. O conjunto da sede é formado por um majestoso casarão e o antigo terreiro de secagem de café, cercado por um espesso muro de pedra, permite o vislumbre perspectivo do casarão. Adjacentes ao terreiro estão a tulha e a usina. A propriedade tem currais para o gado, criação de galinhas e porcos. Possui ainda palmeiras imperiais e um pomar como área de transição entre a mata e a área edificada. Ao fundo está a reserva florestal de cerca de 50 hectares, que envolve toda a propriedade, implantado em um vale para onde convergem as águas que provêm dos morros circundantes, garantindo um microclima diferenciado.
O agronegócio
João Antônio de Moraes, primeiro Barão das Duas Barras era mineiro e imigrou para Cantagalo no início do século XIX. Chegando a possuir 22 fazendas, sua fortuna correspondia a terras, escravos, pés de café, ganhando dinheiro igualmente como usurário. A Fazenda do Canteiro foi uma das propriedades do primeiro Barão das Duas Barras. Seus descendentes se mudaram para Nova Friburgo na segunda metade do século 19, em busca de um estilo de vida urbano e escola para os filhos. Já o segundo Barão das Duas Barras construiu um palacete em Nova Friburgo que está na posse atualmente da Faculdade de Odontologia da UFF. Depois de sucessivas transmissões hereditárias ao longo de décadas, o último herdeiro Fazenda do Canteiro, entre os Moraes, foi Flávio Linch. Dedicou-se à pecuária leiteira, como todas as fazendas do centro-norte fluminense que migraram do plantio do café para essa atividade econômica. Em 1983, Linch vende a fazenda ao casal Roberto Wellem Etz e Teresa Cristina Vieira Machado Etz, que cultiva na propriedade variados tipos de frutas, legumes e hortaliças, se dedica à pecuária de corte, enfim ao agronegócio, colocando a Fazenda do Canteiro como uma propriedade altamente produtiva. Foi a partir dos anos de 1970, com a política de modernização da agricultura que se começou a falar mais explicitamente da existência de uma agricultura capitalista no Brasil, de empresas e de empresários rurais. Com a importância assumida pelas exportações de produtos agropecuários e agroindustriais, a atividade empresarial no campo e as grandes propriedades produtivas passaram a ser responsáveis pelo desenvolvimento do país. Nos anos de 1980, começa-se a substituir a palavra agropecuária por agroindústria. O aumento expressivo das exportações de produtos agrícolas e agroindustriais, bem como o uso de máquinas e insumos modernos, levou à adoção da expressão agronegócio. Por ser a principal atividade econômica do país, o governo federal passou a se preocupar com o escoamento dos produtos agropecuários, investimentos em pavimentação de estradas, na construção de ramais ferroviários e no aumento da navegação fluvial. O papel do Estado, embora minimizado pelos críticos da dinâmica do agronegócio, permanece atuante, seja por meio de políticas setoriais, seja por intermédio de políticas de infraestrutura e ainda pelo estabelecimento de um marco regulatório nas relações de trabalho e meio ambiente. O agronegócio é o que sustenta a economia do Brasil. Mas para os empresários é um setor extremamente tributado, uma atividade que paga muito imposto em comparação com os outros países. Na região serrana fluminense a topografia não permite a mecanização, e por isso, depende-se muito da mão-de-obra que está cada vez mais difícil. Para uma atividade agrícola em alta escala somente o sistema de parceria, como a meação, tem logrado êxito. A paisagem da Fazenda do Canteiro é de uma beleza extraordinária com um paisagismo que dá um toque sofisticado ao ambiente rural. Não se vê nessa propriedade muita erosão nos morros provocado pelo outrora plantio do café, muito comum na paisagem dessa região devastada pela falta de tratamento da terra pelos cafeicultores do período do Império. Há uma tendência de as fazendas históricas abrirem suas portas ao público e a Fazenda do Canteiro está aberta à visitação. O visitante poderá percorrer uma trilha nos arredores da fazenda encontrando árvores centenárias e possivelmente velhos pés de café. No caso da Fazenda do Canteiro a vantagem é de o visitante, além de desfrutar de uma atmosfera histórica, conhece uma propriedade em plena atividade produtiva. Mais informações podem ser obtidas com Gustavo Etz pelo telefone (22)981102783.
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