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Foto do escritorJanaína Botelho

FAZENDA DA QUINTA



Fui visitar a Fazenda da Quinta, no município do Carmo e conferir a fabricação de uma das cachaças mais premiadas do Brasil, produzida nessa propriedade. A casa sede da Fazenda da Quinta, bem como a receita de seu destilado, remontam ao século 19. A casa de vivenda não existe mais, porém restaram o muro e algumas estruturas que são preservadas pelos atuais proprietários. No ano de 1923, a propriedade foi adquirida pela família Alves, estando entre eles há três gerações. Passou por Francisco Lourenço Alves, José Ramos Alves e atualmente está sob a administração de Kátia Alves Espírito Santo. Sobre essa fazenda no passado nada se sabe. Os latifúndios, os engenhos, as rodas d’água e os carros de boi dominaram a paisagem rural nos três primeiros séculos da história do Brasil. O progresso trouxe o vapor como energia e muitos engenhos foram sendo substituídos pelas usinas que surgem no século 19. Uma delas foi o Engenho Central Laranjeiras, localizado no município de Itaocara. Os engenhos de cana-de-açúcar inspiraram muitas cantigas como a que tem a seguinte letra, Engenho novo, engenho novo, engenho novo, bota a roda pra rodar. / Eu dei um pulo, dei dois pulos, dei três pulos, desta vez pulei o muro, e quase morro de pular./Engenho novo, engenho novo, engenho novo, bota a roda pra rodar./ Capim de planta, xique-xique, mela-mela, eu passei lá na capela, vi dois padres no altar./Engenho novo, engenho novo, engenho novo, bota a roda pra rodar. Na produção colonial de açúcar, "cachaça" era o nome dado à primeira espuma que subia à superfície do caldo de cana fervido. Ela era fornecida aos animais ou mesmo descartada. A segunda espuma era consumida pelos escravos, principalmente depois que fermentasse. Esse caldo era chamado de cagaça. Posteriormente, passou-se a destilar a espuma e o melaço e a produzir uma aguardente de baixa qualidade, nascendo a cachaça. Além de fornecida aos escravos era consumida por pessoas de baixa renda. Atualmente, várias marcas de cachaça de boa qualidade figuram no comércio nacional e internacional e estão presentes nos melhores restaurantes e adegas no Brasil e no mundo. A cachaça da Quinta é uma delas. Segundo Kátia Alves Espírito Santo, o Brasil possui 30.000 produtores de cachaça, mas apenas 1.500 empresas se encontram legalizadas. Há muita informalidade nesse setor. O Estado de São Paulo domina o mercado de cachaça em termos de produção e exportação. O Estado de Pernambuco, berço dos engenhos, disputa com o Estado do Rio de Janeiro o segundo lugar na produção. No entanto, o Estado do Rio de Janeiro ocupa a posição de segundo maior exportador em termos de valores monetários, sendo considerado o território da cachaça de qualidade. Finalmente, o Estado do Rio possui o maior conjunto de marcas certificadas pelo Inmetro em conformidade com processos e produtos. Surpreende que tão próximo de Nova Friburgo, exista uma cachaça que além de seu valor histórico, exporta para diversos países como Estados Unidos, Taiwan, Inglaterra e França. A Cachaça da Quinta recebeu a medalha de ouro em um concurso em Bruxelas concorrendo com os melhores destilados do mundo. A cachaça é registrada internacionalmente na Organização Mundial de Comércio e reconhecida como um produto genuinamente brasileiro. Devido à associação durante séculos dessa aguardente aos escravos e às classes populares, a cachaça tinha um simbolismo de bebida de pobre. No entanto, nas últimas décadas, o seu reconhecimento internacional contribuiu para acabar com o preconceito dos brasileiros, alçando um status de bebida merecedora dos mais exigentes paladares.



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