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Foto do escritorJanaína Botelho

A GASTRONOMIA FRANCESA EM NOVA FRIBURGO



O sofisticado comércio de Nova Friburgo


Nova Friburgo no final do século 19 recebia muitos cariocas que fugiam da epidemia de febre amarela no Rio de Janeiro. Estes veranistas permaneciam seis meses na cidade. Como as soirées eram muito comuns nos hotéis da cidade durante a temporada de verão, havia casas comerciais que vendiam produtos importados da Europa para atender aos estabelecimentos hoteleiros e aos turistas que alugavam casas. A elite brasileira costumava servir em seus encontros sociais, como soirées e casamentos, pratos da gastronomia francesa acompanhados de bebidas originárias da França.


Fiz um levantamento do que vendia este sofisticado comércio de importados de Nova Friburgo através dos anúncios no jornal O Friburguense. Na internet localizei quase todos estes produtos e seguem as suas imagens. Cumpre destacar que a forma de embalagem é diferente do final do século 19.


Na Praça Paissandu(Marcílio Dias) existia um comércio que era uma mistura de Boulangerie e Pâtisserie Française, de propriedade de Felix Besnard. O estabelecimento vendia boudin, saucisse, crépinettes, pâte d’Italie, pâté de foie de canard, pâté de Pithiviers, pâté de Ruffec, galantine truffée, rillettes de Tours, tripés à la mode de Caen, saucisson d’ Arles, saucisson d’Lyon, jambon de Westphalie, jambon de York, langues fourrées, glaces e montées pour banquets.*


Na Guarany Store localizada na Praça 15 de Novembro(atual Getúlio Vargas) vendiam-se bombons finos em vidros importados da Suíça, variado sortimento de chocolat suchard à la vanille, biscuits suchard**, cacao soluble***, diablotin à la vanille****, mandarines*****, cartons de bolons à la creme, petites croquettés santé e de vanillé.


Na Casa Sá, também se encontravam gêneros importados de qualidade e hors-d’oeuvre******. Na confeitaria de Frieda Huttig localizada na Gal. Osório havia variado sortimento de pudins, pão-de-ló, biscoitos, bolos, balas e pratos frios como saladas, mayonnaise entre outros acepipes.


Eram igualmente bem afreguesadas as casas que vendiam linguiças, salpicões, morcelas, salames, ameixas francesas, tâmaras, uvas-passas, abricot cristalizado, amêndoas de Lisboa, nozes, açúcar branco e fiambres.


No setor de bebidas havia a cerveja Franziskaner pilsen e cerveja preta inglesa. O friburguense abastado poderia ter à mesa vinhos de Bordeaux, champanhe Veuve Clicquot e águas de Vichy.


*Seria uma torre ou cone com acepipes que poderia ser de variados tipos de queijos ou charcuterie(nossos embutidos ou “frios”).


**É a Nestlé que na Suíça utiliza a marca Suchard.


***Um luxo e uma grande novidade da época, chocolate em pó para ser misturado ao leite. Invenção da empresa Suchard que conhecemos como Nestlé.


****Na minha interpretação um bolo ou torta tão delicioso que seria uma espécie de “tentação do diabo”.


***** Mexerica


******Pratos para entrada.


Cerimônia de casamento


O jornal francês “Messager du Brèsil” de primeiro de novembro de 1883, impresso no Rio de Janeiro, descreve a cerimônia de casamento de Alice Clemente Pinto com Rodolpho Epifânio de Sousa Dantas, realizado em 27 de outubro de 1883. Alice era neta do primeiro Barão de Nova Friburgo, filha de Antônio Clemente Pinto Filho, Conde de São Clemente, e Maria José Rodrigues Fernandes Chaves. O ofício religioso e o almoço foram realizados no Palacete Nova Friburgo(hoje Museu da República) onde foi servido o seguinte menu:


MENU


Beurre, radis, anchois, saumon et olives, oeufs brouillés aux truffes, poisin tune tanque (sic) de crevettes Pompadour, cotelettes d’agneau Dusmesml, suprème de volaille petis-pois, galantine e faisans à la votière, jambon d’York décoré, pâté de Pithiviers volant, mayonnaise de hornards(sic) à la gelée, dindonneau truffé, salade russe, rost beef, fonds d’artichauts à la moëlle, croutes à la Richelieu, gelée au marasquin, fromage panaché, nougät gateau de noce, Château des Chantelles.


Boissons:

Madère(Madeira), Château d’Yquem, Lur Saluce, Brown Cantenac, Chambertin, Château Laffitte, Louis Roederer glacé(gelado), Veuve Clicquot, Porto vieux (Porto envelhecido), Constance e Tokay.


Tradução: Manteiga, rabanete, anchova, salmão e azeitonas, ovos mexidos com trufas, peixe guarnecido com camarões à moda Pompadour, costeleta de cordeiro Dusmesml, supremo de voilaille com ervilhas, galantine e faisão à la votière, presunto de York decorado, patê de Pithiviers, maionese de lagostim com geleia, peru com trufas, salada russa, rosbife, coração de alcachofra, massa folhada à la Richelieu, geleia de marasquino, diversos tipos de queijos, torta de nozes, uma sobremesa típica do Château des Chantelles.*


*Alguns donos de castelos na França editam livros de receitas de pratos típicos de suas propriedades. Lembrando que o creme de leite chantilly foi criado no Château de Chantilly.

O menu foi impresso em um leque de cetim branco com as iniciais dos noivos e distribuído para as senhoras. Já para os senhores cavalheiros o menu foi impresso em uma carteira em cetim branco cartonado.


Inauguração do Instituto Hidroterápico


A europeização da sociedade friburguense pode ser medida na descrição de um bufê por ocasião da festa de reinauguração do Instituto Sanitário Hidroterápico, ocorrido no Hotel Central(atual C.N.das Dores). A festa teve início às 18 horas, sendo servido um “delicado menu” no salão ricamente mobiliado com móveis austríacos e serviço de mesa com os mais finos cristais e porcelanas.


MENU


Hors-d’oeuvre d’offre Assortie

Potage

JULIENE – COLBERG

Hors-d’oeuvre de cuisine

Petites bouchées à la purée de Perdiz

RELEVÉE

Poisson fin à la Genoise – pommes à l’anglaise

ENTRÉE

Emincé D’Agneau

PIÈCES FROIDES

Aspic au foie gras – jambon de York

Grand punch à la Theodoro*

RÔTIS

Dinde farcie à la Brèsilienne

Roast-beef a l’anglaise

SALADE VERT VARIÉ ENTREMET

Gateau à la Reine

Salade de fruits

Café Moka – The liqueurs, assortie.

Vins

Madeira Medoc, Château Palugyay, Château La Rose, Clarete, Champagne, Porto.


*Médico proprietário do Instituto Sanitário Hidroterápico.


Fonte: (O Friburguense, de 27-12-1891)

Não encontraram bacalhau à venda neste comércio de importados? Bacalhau era comida de pobre. Daí o ditado “Pra quem é, bacalhau basta”.

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