No passado, Nova Friburgo tinha tradição na produção de vinho em virtude da afluência de colonos e imigrantes europeus na formação do município. Iniciou com os suíços e a seguir a tradição passou aos portugueses e italianos. Quando os suíços chegaram na fazenda do Morro Queimado foram realizadas conferências agrícolas na Casa de Inspeção para explicar à eles os métodos de plantio brasileiro. Foram feitas diversas perguntas pelos suíços que demonstrava a intenção e os projetos desses colonos no plantio de vinhas, nos informa Martin Nicoulin, em “A Gênese de Nova Friburgo”. Na ocasião, um dos colonos perguntou: “Pratica-se a viticultura?”, ao que responderam negativamente. Logo, entre sementes de milho, feijão preto e trigo foram distribuídas mudas de videiras aos colonos suíços viticultores. Já se viam vinhas nas encostas da vila de Nova Friburgo nos primeiros anos da Colônia. Nicoulin nos informa que a família Rime, embora com terreno pouco extenso, produzia queijos e introduziu o cultivo da vinha em associação com o vinhateiro Alexandre Burnier. Originário do Cantão de Vaud, Burnier desmatou um pedaço de terra e plantou mais de 10.000 parreiras. Ele seria recompensado pelas autoridades brasileiras por ter produzido o primeiro vinho de Morro Queimado. Os colonos originários do Cantão de Fribourg se dedicaram a fabricação de queijo e os oriundos de Vaud, às vinhas.
Em meados do século XIX, a Câmara Municipal de Nova Friburgo recebeu o seguinte ofício: “Diz Nicoláo Leglaye, morador nesta vila, proprietário da casa n°09, da Rua do Chateau(atual Gal. Osório), em cujo lugar é o suplicante foreiro a esta Câmara de 8 braças de terreno(...) como o Suplicante tem dado princípio a plantação de vinhas no quintal da dita casa, donde espera, confiado na Divina Providência, tirar dele frutos próprios deste clima em grande abundância e até mesmo esperançado de poder fabricar vinho para o futuro, vem por isso implorar o auxílio desta Câmara concedendo-lhe mais 4 braças de terreno junto ao que já possui....” Já no fim desse século, o maior produtor era o capitão Manoel Fernandes Ennes, citado no Almanaque Laemert, em 1877, como proprietário circunscrito à Freguesia de São João Batista. Comercializava e distribuía vinho para outras localidades, sendo reconhecido como produtor em ata da Câmara de 1888. Curiosamente, teve isenção de imposto como atualmente ocorre com a França, em que o imposto é reduzido por ser o vinho enquadrado na categoria de alimento e não como bebida alcoólica. Sua vindima possuía 1.500 videiras, plantadas em várzea e sua produção era de 18 pipas anuais. A marca adotada pelo fabricante era de “vinho nacional fabricado em Nova Friburgo”. Em reclame publicado em O Friburguense, de 26-3-1892, declarava: “Ennes & Lusitano tem sempre grande quantidade de vinhos superiores de uvas fabricadas e aperfeicoadas n’esta cidade e por isso pede a todos os seus freguezes para o coadjuvar n’este novo melhoramento industrial”. O vinho fresco português, que denominamos de “vinho verde”, e no passado de “virgem”, era muito consumido em Nova Friburgo. Outro produtor foi José Ferreira Thomé, que tinha um vinhedo próximo da área urbana, logo depois da Chácara de Duas Pedras. No entanto, era uma produção para consumo próprio. Já o italiano Giovani Giffoni, além de importador, fabricava igualmente vinho na Chácara do Suspiro. Giffoni era o único importador no Brasil do vino rosso di Castellabate, da província de Salerno, em Nápoles, na Itália. A garrafa de seu vinho tinha na parte superior a coroa italiana entre as iniciais J. G. (João Giffoni).
A Câmara Municipal incentivava a produção do vinho. Um edital de 23 de abril de 1895, expedido pela Estação Agronômica do Estado do Rio de Janeiro, divulgava a distribuição de mudas e bacellos de diversas variedades de vinhas provenientes da Europa. O edital, publicado em O Friburguense de 11 de setembro de 1895, destacava que, “havendo neste município terrenos que são próprios para esta cultura”, os interessados deveriam dirigir carta ao diretor da Estação Agronômica, que lhes enviaria as mudas e instruções impressas sobre sua cultura, sem qualquer ônus.
Ao final do século XIX, o deputado Fleury visitou o distrito de Sebastiana, freguesia de Nova Friburgo, e descreveu as culturas produzidas na região. Fleury escreveu: “...É incontestavelmente uma das regiões mais aprazíveis do Estado do Rio de Janeiro (…)O viajante que transita pelos caminhos sinuosos entre montes e vales que constituem o território de Sebastiana, por vezes pára estupefado ante o espetáculo que a natureza lhe oferece nas suas múltiplas paisagens, que recordam ao touriste as quadras campestres da Suíça pitoresca (…)Assim é que vi peras suculentas, maçãs, nozes, cerejas, enfim, todas as frutas que importamos ao estrangeiro, inclusive uvas oriundas de vários pontos de Portugal, que se prestam perfeitamente à extração do vinho cujo sabor é idêntico ao dessa procedência...”(O Friburguense, “A Terra da Promissão”, de 21-3-1895.)
Já no século XX, em 1908, por ocasião da Exposição Nacional, seguiram para o Rio de Janeiro representando Nova Friburgo, Francisco Vidal Gomes e Luiz Guadagnini, fabricantes de vinhos branco e tinto, e igualmente Pedro Lamblet, fabricante de vinho de ananás. A tradicional família de italianos, os Spinelli, que imigraram para Nova Friburgo no século XIX, produzia vinho na Granja Spinelli, denominado de Granjinelli, tendo como vinhateiro Alfredo dos Santos Spinelli. Produzia vinho branco e tinto, há época denominado de “claro e escuro”. No jornal O Friburguense, há ainda o anúncio de vinho produzido em Rio Grande(Conselheiro Paulino), marca “CAC”. Ressalta o anúncio que o produto é puro, não adulterado, engarrafado pela Cia. Antarctica, cumprindo todos os requisitos de higiene.
Outro produtor de vinho em Nova Friburgo era o português Antônio Pinto Martins, nascido em 1862, no Minho, em Portugal. Imigrou para o Rio de Janeiro com onze anos de idade e trabalhou durante quarenta anos no comércio. Em 1914, aos 52 anos de idade, em virtude de um derrame mudou com a família para Nova Friburgo. Na sua chácara fabricava vinho com a marca Vila Amélia. O Córrego do Relógio que passa pelo atual bairro da Vila Amélia era circundado por videiras plantadas por Antônio Martins que produziam saborosas uvas. As videiras desciam pelo córrego sobre uma pérgula de ferro e forneciam sombra aos que por ali transitavam nos dias de sol causticante. De um imponente “sobreiro” em sua chácara, árvore que trouxe de Portugal tirava a cortiça para fazer as rolhas das garrafas do vinho que produzia. Igualmente o português Alexandre Moraes produzia vinho de laranja para consumo da família. Segundo o seu neto a dificuldade em comprar uvas fez com que ele usasse a laranja para a elaboração do vinho.
Os imigrantes europeus, por diretriz do governo geral, deveriam ter introduzido cultura de vinhas em Nova Friburgo, por ser o clima adequado para tal fim. No entanto, provavelmente atraídos pela cultura café, cujo plantio era altamente lucrativo à época, alteraram sua atividade agrícola. Mas esses pequenos ensaios de produção de um vinho local nos faz refletir sobre a viabilidade de videiras em Nova Friburgo.
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