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Foto do escritorJanaína Botelho

JEAN BAZET E SEUS NEGROS AO GANHO



A história é viva e conforme avançam as pesquisas, traz-se luz aos acontecimentos ou mesmo fatos novos. Refiro-me a tese de mestrado de Rodrigo Marins Marretto, "A escravidão velada: A formação de Nova Friburgo na primeira metade do século XIX", que demonstra uma imagem não muito simpática daquele que dá nome a sala principal da Câmara Municipal: o médico Jean Bazet. O número de escravos na Vila de Nova Friburgo sempre foi expressivo, alcançando quase metade da população e Bazet foi um dos que exploravam o trabalho escravo. Marretto utilizou os dados dos registros de batismo de escravos da Vila de Nova Friburgo e selecionou 513 senhores de cativos, entre 1820 a 1850. Classificou esses proprietários em micro proprietários, estando nesse contexto o padre suíço Jacob Joye; pequenos proprietários, estando o médico Jean Bazet e os grandes proprietários. O fato de padres possuírem escravos não é nenhuma novidade. Mas Jacob Joye, guia espiritual da colônia de suíços possuí-los, surpreende. Quando chegou ao Rio de Janeiro foi o único que teve permissão para descer do navio e ser recebido pelas autoridades. Ao ver o tratamento dado aos escravos nas ruas da Corte, causou-lhe repugnância e escreveu em seu diário: “Durante o dia não vimos senão negros, eles fazem todo trabalho. A maneira como são tratados me causou uma impressão extremamente sensível, tanto que não podia esperar o momento para voltar a bordo”. Pouco mais de um ano após a sua chegada à Vila de Nova Friburgo escreveu à família que “comprou um negro novo pelo qual pagou 25 libras, 500 francos”. O médico Jean Bazet ocupou o cargo de presidência da Câmara de Vereadores em três mandatos. Marreto utilizou a fonte de bastimos para saber o número de escravos de Bazet. O que surpreende é o seu número: 39 escravos pertenciam ao médico. Como nos parece que Bazet não tinha atividade agrícola fica a hipótese de que seus escravos trabalhavam “ao ganho” na vila. E o que era trabalhar “ao ganho”? O médico teria colocado seus escravos prestando serviços a terceiros ou vendendo algum produto, recebendo o valor desses serviços ou da venda. Bazet parecia mesmo combativo e engajado como senhor de escravos. Na sessão ordinária de 05 de fevereiro de 1831, em que presidiu foi apresentado um ofício “participando que na noite do dia 27 de janeiro próximo passado haviam fugido 6 escravos que se achavam no libambo desta Vila”. Declarou que a Câmara Municipal tomaria as “providências necessárias à perseguição dos ditos negros”. Dois anos depois, como presidente da Câmara de Vereadores, João Bazet referiu-se a construção de um novo libambo e dos benefícios que esse poderia trazer. O libambo era um prédio tosco onde os escravos fugitivos ficavam detidos depois de capturados pelos capitães do mato aguardando que seus proprietários os reclamassem. No entanto, fugiam com frequência do libambo, pois a precariedade do material de sua construção permitia que com pancadas e pressão sobre a parede, desabasse. O nome libambo vem de uma corrente de ferro usada para prender os escravos que ficavam unidos uns aos outros pela corrente. Os escravos permaneciam muitas vezes longo tempo no libambo, pois os proprietários não tinham como pagar à Câmara pela sua captura e alimentação no período em que estiveram detidos. Lembrando que os capitães do mato viviam a soldo da Câmara Municipal. Logo, Bazet achou por bem utilizar os escravos detidos no libambo enquanto não reclamados prestando serviços em estradas públicas, limpeza de ruas, pântanos e do pasto público sob a vigilância de um “pedestre”, nosso policial de hoje. Isso teria gerado polêmica entre os vereadores, pois se tratava de utilizar uma propriedade de um particular. Fica aí mais um registro sobre o cotidiano da escravidão em Nova Friburgo.

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