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Foto do escritorJanaína Botelho

A HISTÓRIA DA CHÁCARA DA VILA AMÉLIA

Atualizado: 21 de abr. de 2021



Durante cinquenta anos, o palacete da Vila Amélia, de propriedade da AFAPE foi alugado pelo Governo do Estado para servir como delegacia e carceragem de Nova Friburgo. Há alguns atrás o Instituto de Criminalística Carlos Éboli condenou as suas instalações e devolveu-o a AFAPE. Esse imóvel é reconhecido como patrimônio histórico e tombado provisoriamente pela prefeitura municipal. No passado foi a chácara do português Antônio Pinto Martins. Casado com a conterrânea Carolina, a única filha da família, Amélia, daria nome a chácara dos Martins: Vila Amélia. As vilas são uma tradição portuguesa e havia inúmeras delas em Nova Friburgo. Áurea Maria Almeida, neta de Amélia e bisneta de Antônio e de Carolina, reconstituiu o cotidiano da família Pinto Martins na chácara da Vila Amélia através de um livro de memórias. Segundo ela, Antônio Alves Pinto, nasceu dia 1° de julho de 1862. Era natural de Fervença, Concelho de Celorico de Basto, no Minho, em Portugal. Filho de lavradores modestos veio para o Rio de Janeiro com onze anos de idade trabalhando como caixeiro na firma Arantes & Rabelo. Mais adiante se empregou na empresa Coelho Martins & Cia, uma casa de secos e molhados, na Rua Uruguaiana. Quando um dos sócios de sobrenome Martins faleceu, de empregado ele se tornou sócio adotando o sobrenome Martins, passando a chamar-se Antônio Alves Pinto Martins. Antônio conheceu Carolina Gomes da Rocha, nascida em 1863, em uma de suas viagens a Portugal. Depois de regressar ao Brasil pediu que ela viesse. Casaram-se em 1898, ele com 36 e ela com 35 anos de idade, depois de terem tido três filhos. Carolina passou a chamar-se Carolina Gomes Martins. O casal teve oito filhos e Carolina antes de se unir a Antônio já tinha uma filha que veio com ela de Portugal.


Quando residia no Rio de Janeiro Antônio Martins envolveu-se indiretamente em um interessante episódio histórico: a Revolta do Vintém, um protesto contra o aumento do preço dos bondes puxados por burros. O aumento de um vintém na passagem decretado pelo Governo em 1879, foi motivo de violenta batalha campal, no centro da cidade. Em 1° de janeiro de 1880, a um grito de “fora vintém”, os manifestantes começaram a espancar os condutores, esfaquear a mulas, virar os bondes e arrancar os trilhos ao longo da Rua Uruguaiana, por ocasião da revolta do “imposto do vintém”. O Chefe de Polícia, desembargador Eduardo Pindaíba de Matos, mandou intervir utilizando a Força Pública para dispersar os manifestantes. Nada conseguiu. Ao contrário. Irritou ainda mais o povo, que redobrou a violência nos protestos. Veio o auxílio da cavalaria do Exército, que investiu sobre a multidão, dispersando-a no meio de assuadas, pedradas e tiros de revólver, matando três pessoas. Acuados, os populares invadiram a Casa Comercial Coelho & Martins, de Antônio Martins, que funcionava na Rua Uruguaiana. Retiraram de lá grandes sacos de rolhas de cortiça e espalharam pela rua. Os cavalos escorregaram nas rolhas, perderam o equilíbrio e os soldados caíram no chão sob as vaias da multidão. Esse expediente permitiu a fuga dos manifestantes acuados pelo Exército. Trabalhando durante quarenta anos em seu comércio no Rio de Janeiro, em 1914, aos 52 anos de idade, Antônio Martins teve um de derrame. Foi quando decidiu residir com a família em Nova Friburgo. Alguns fatores podem influenciado sua decisão de residir nesse município. Nova Friburgo, cidade conhecida pelo seu clima salubre, indicada para o tratamento da tuberculose, era ideal para o seu filho Álvaro, tuberculoso, que já frequentara o Sanatório Naval de Nova Friburgo. Outro fator pode ter sido uma recomendação do engenheiro Farinha Filho, proprietário do imóvel onde o casal Martins residia no Rio de Janeiro. Nova Friburgo não lhe era desconhecida, pois o seu filho Abílio era interno no Colégio Anchieta.


Antônio Alves Pinto Martins, o “Seu Martins”, como era conhecido, adquiriu, em 1914, o imóvel da Família Salusse conhecido como Sítio do Relógio, propriedade com extensão de 667.749 m². Explorando comercialmente a chácara, construiu o “Mercado Villa Amélia”, onde vendia laticínios como leite, queijo e manteiga, verduras, legumes, frutas frescas e em conserva, mel e linguiças defumadas. Apesar da memória familiar não fazer qualquer alusão, possivelmente fabricava vinho, pois tinha videiras com uvas de qualidade e uma árvore de cortiça em sua propriedade para fazer rolhas. Em Janeiro de 1915, registrava a logomarca V.A., de Villa Amélia, com um V e um A entrelaçados. Todos os produtos comercializados tinham essa logomarca. Para complementar a renda, alugava cinco casas dentro de sua extensa propriedade. A sua linda residência levou aproximadamente dois anos para ser construída, ficando conhecida como Mansão da Villa Amélia. Ficava em um planalto, a 195 metros da entrada da Villa Amélia. Foi inaugurada dia 18 de maio de 1916, tendo sida benzida por Monsenhor José Alves de Miranda. Lindas glicínias formando trepadeiras na varanda enfeitavam a frente da casa.


Amélia, que deu nome à vila era o xodó da família Martins, por ser a única menina entre os sete filhos homens: Camillo (que morreu criança), Aníbal, Antônio, Abílio, Álvaro, Alberto e Alfredo. Amélia nasceu no Rio de Janeiro, em 11 de setembro de 1898. Devido ao grande amor filial a única menina a residência da família em Nova Friburgo foi denominada de Villa Amélia. Amélia tinha aulas de francês, piano e bordado como qualquer moça da elite de seu tempo. Casou-se em maio de 1919, aos 20 anos, com o português Antônio Almeida. A cerimônia foi celebrada ao ar livre por Monsenhor José Alves de Miranda, na Villa Amélia. Por ser o noivo proprietário da Confeitaria Palace, no Rio de Janeiro, todo o serviço foi realizado pela confeitaria. A família do noivo vivia em Portugal, razão pelo qual a lua de mel foi nesse país para que Amélia fosse apresentada a família do noivo. Amélia e Almeida tiveram sete filhos e viveram nos primeiros tempos de casados em Nova Friburgo. Almeida trabalhando na Confeitaria no Rio, somente ia aos fins de semana para a Villa Amélia. Devido a uma doença da quarta filha de Amélia, a família mudou-se para Portugal em 1929, morando em Lisboa. Enquanto residiram em Portugal, Amélia teve dois filhos. A família residiu em Portugal durante sete anos, e em 1936, retornaram ao Brasil, após a cura da filha, indo morar novamente na chácara da Villa Amélia. Depois de alguns anos Amélia e o marido se mudaram definitivamente para Niterói. Amélia Martins de Almeida faleceu em 16 de Fevereiro de 1950, com 51 anos de idade, um ano antes da venda da vila que levava o seu nome: Vila Amélia. Na chácara da Vila Amélia, pomar com pereiras, macieiras, goiabeiras, canforeiras, jabuticabeiras, laranjeiras, caquis, tojos, bananeiras, pita e nêsperas cujas mudas vieram de Portugal. No brejo plantavam hortaliças, legumes e aspargos. Havia a “árvore do palito” que se fazia nada menos que palitos. Na entrada, muitas hortênsias ladeando todo o caminho até se chegar à casa da família. No meio de uma enorme touceira de hortênsias se erguia um majestoso e imponente Sobreiro, árvore que Antônio trouxe de Portugal e de onde se tira a cortiça para fazer rolhas das garrafas de vinho que possivelmente produzia. À frente da casa, à direita, havia um lago com peixes, um chafariz e muitas flores: margaridas, azaléas, orquídeas, palmeirinhas, cravos, boca de leão e roseiras raras, onde se fazia enxertos delas. Na Exposição do Centenário da Independência em 1922, os Martins lotaram um vagão de carga da Leopoldina Railway com flores para serem exibidas na exposição. Na chácara havia duas nascentes próprias e uma delas com uma queda d ́água que formava uma cascata que deram o nome de Cascata Carolina. A água era cristalina e potável e formava uma piscina natural entre as pedras. Um moinho e um riacho acionava um monjolo com um cata-vento. Excursão ao Morro das Duas Pedras era um dos passeios prediletos dos Martins. Havia uma trilha no meio da mata até essas montanhas. Uma nascente no caminho era ponto obrigatório para um pic nic e para encher os cantis. De lá apreciavam a vista de Nova Friburgo.


A mansão da Vila Amélia tem um estilo muito parecido com a residência dos Galdino do Vale. Na residência uma imponente escada de pinho de riga com três lances de escadas. Na parede um vitral colorido, vindo da Europa, ocupa toda a altura da casa. Nos compartimentos, a sala principal, a copa, a adega e a cozinha com fogão à lenha e serpentinas que forneciam água quente para toda a casa. A residência tinha seis quartos em cima e um enorme banheiro. As louças, jarros d’água, bacias e saboneteiras eram todas em faiança portuguesa e tinha o monograma AM, de Antônio Martins, assim como as toalhas, guardanapos e roupas de cama. Periodicamente, Antônio Martins encomendava peças para repor a baixela que quebrava da fábrica portuguesa de porcelanas, Vista Alegre. Essa empresa enviava os desenhos para ele escolher o seu preferido. O Córrego do Relógio, que passa pelo atual bairro da Vila Amélia, era canalizado e circundado por videiras plantadas por Antônio Martins que produziam saborosas uvas. As videiras desciam pelo córrego sobre uma pérgula de ferro e forneciam sombra aos que por ali transitavam nos dias de sol causticante. Os veranistas que passeavam da Praça do Suspiro geralmente percorriam as margens do Córrego do Relógio apreciando suas videiras até alcançar a chácara de Antônio Martins para adquirir o seu famoso mel. Martins trouxe de Portugal a árvore que florescia a “flor de tojo”, cujo pólen servia para o seu apiário. A família se orgulhava do mel produzido, o mais apreciado na cidade, que chegou a ganhar Medalha de Ouro em Bruxelas, a Medalha Mel Flor de Tojo. Desde então, foi feito um rótulo com a estampa da medalha e colocado nos frascos do mel. Estábulo, paiol, vacas, cabras, porcos, enfim, a chácara localizada no coração da cidade atraía a atenção de todos. A charcutaria é uma tradição portuguesa. Em um galpão ficava o fumeiro onde eram defumadas as linguiças de porco, feitas na propriedade. As linguiças de porco eram dispostas e penduradas nos varais e em baixo se queimava a lenha para defumar. De acordo com a memória familiar, quando se matava um porco os pedaços eram colocados em vasilhames enormes de barro e encobertos por banha derretida que ao esfriar se solidificava, ficando branca como a neve. A carne mergulhada era usada quando necessário e poderia ficar nesse recipiente por meses ou até um ano e se tinha sempre pernil fresquinho. Nos outros galpões ficavam peças para lavoura e o moinho usado para moer o café plantado na propriedade.


Antônio incentivou o filho Aníbal a estudar em Portugal e na França, onde se formou em comércio; o segundo filho, Antônio, estudou em um colégio jesuíta de Lisboa. Já Abílio, que era interno no Colégio Anchieta desde que a família morava no Rio de Janeiro, frequentou uma universidade nos Estados Unidos. Seus demais filhos estudaram no Colégio Anchieta. Antônio Alves Pinto Martins faleceu dia 25 de junho de 1924, com 62 anos, na Vila Amélia. Já a matriarca da família, Carolina Martins, faleceu em 1945, com 82 anos de idade. Há muitos anos, nenhum membro da família Martins residia em Nova Friburgo, mas em Brasília, Minas Gerais, e deles em Manaus. Um dos filhos, Alfredo, resolveu residir com a família quando do falecimento da mãe. Habitou a Vila Amélia até o ano de 1948, para dar prosseguimento aos negócios da família. No entanto, as despesas suplantavam em muito a receita.


A linda chácara de Antônio Alves Pinto Martins estava com os dias contados. O então prefeito de Nova Friburgo, José Eugenio Müller, que se correspondia com Amélia, pretendia adquirir a propriedade para a Fundação da Casa Popular ou para a Prefeitura de Nova Friburgo, para ali ser construída uma Vila Proletária devido a sua proximidade com a Fábrica Filó. O inventário foi terminado em 1947, ficando o imóvel em condomínio. Como havia muita discórdia entre os irmãos, ficaram entre a extinção do condomínio e divisão do imóvel ou a sua alienação em hasta pública. Como não houve acordo para a extinção do condomínio, o imóvel foi a leilão, em 1951, sendo arrematado por um valor aquém do esperado. A Câmara Municipal adquiriu parte dos terrenos da Villa Amélia. A instalação da delegacia e carceragem durante décadas deteriorou e descaracterizou a mansão da Vila Amélia. A AFAPE, proprietária do imóvel, não tem condições financeiras de restaurá-la e mesmo de mantê-la. A linda chácara e residência de Antônio Pinto Martins, que encantava tantos os veranistas, precisa de ajuda. A história da família Pinto Martins é igualmente a história de Nova Friburgo.


Durante cinquenta anos, o palacete da Vila Amélia, de propriedade da AFAPE foi alugado pelo Governo do Estado para servir como delegacia e carceragem de Nova Friburgo. Há alguns atrás o Instituto de Criminalística Carlos Éboli condenou as suas instalações e devolveu-o a AFAPE. Esse imóvel é reconhecido como patrimônio histórico e tombado provisoriamente pela prefeitura municipal. No passado foi a chácara do português Antônio Pinto Martins. Casado com a conterrânea Carolina, a única filha da família, Amélia, daria nome a chácara dos Martins: Vila Amélia. As vilas são uma tradição portuguesa e havia inúmeras delas em Nova Friburgo. Áurea Maria Almeida, neta de Amélia e bisneta de Antônio e de Carolina, reconstituiu o cotidiano da família Pinto Martins na chácara da Vila Amélia através de um livro de memórias. Segundo ela, Antônio Alves Pinto, nasceu dia 1° de julho de 1862. Era natural de Fervença, Concelho de Celorico de Basto, no Minho, em Portugal. Filho de lavradores modestos veio para o Rio de Janeiro com onze anos de idade trabalhando como caixeiro na firma Arantes & Rabelo. Mais adiante se empregou na empresa Coelho Martins & Cia, uma casa de secos e molhados, na Rua Uruguaiana. Quando um dos sócios de sobrenome Martins faleceu, de empregado ele se tornou sócio adotando o sobrenome Martins, passando a chamar-se Antônio Alves Pinto Martins. Antônio conheceu Carolina Gomes da Rocha, nascida em 1863, em uma de suas viagens a Portugal. Depois de regressar ao Brasil pediu que ela viesse. Casaram-se em 1898, ele com 36 e ela com 35 anos de idade, depois de terem tido três filhos. Carolina passou a chamar-se Carolina Gomes Martins. O casal teve oito filhos e Carolina antes de se unir a Antônio já tinha uma filha que veio com ela de Portugal.


Quando residia no Rio de Janeiro Antônio Martins envolveu-se indiretamente em um interessante episódio histórico: a Revolta do Vintém, um protesto contra o aumento do preço dos bondes puxados por burros. O aumento de um vintém na passagem decretado pelo Governo em 1879, foi motivo de violenta batalha campal, no centro da cidade. Em 1° de janeiro de 1880, a um grito de “fora vintém”, os manifestantes começaram a espancar os condutores, esfaquear a mulas, virar os bondes e arrancar os trilhos ao longo da Rua Uruguaiana, por ocasião da revolta do “imposto do vintém”. O Chefe de Polícia, desembargador Eduardo Pindaíba de Matos, mandou intervir utilizando a Força Pública para dispersar os manifestantes. Nada conseguiu. Ao contrário. Irritou ainda mais o povo, que redobrou a violência nos protestos. Veio o auxílio da cavalaria do Exército, que investiu sobre a multidão, dispersando-a no meio de assuadas, pedradas e tiros de revólver, matando três pessoas. Acuados, os populares invadiram a Casa Comercial Coelho & Martins, de Antônio Martins, que funcionava na Rua Uruguaiana. Retiraram de lá grandes sacos de rolhas de cortiça e espalharam pela rua. Os cavalos escorregaram nas rolhas, perderam o equilíbrio e os soldados caíram no chão sob as vaias da multidão. Esse expediente permitiu a fuga dos manifestantes acuados pelo Exército. Trabalhando durante quarenta anos em seu comércio no Rio de Janeiro, em 1914, aos 52 anos de idade, Antônio Martins teve um de derrame. Foi quando decidiu residir com a família em Nova Friburgo. Alguns fatores podem influenciado sua decisão de residir nesse município. Nova Friburgo, cidade conhecida pelo seu clima salubre, indicada para o tratamento da tuberculose, era ideal para o seu filho Álvaro, tuberculoso, que já frequentara o Sanatório Naval de Nova Friburgo. Outro fator pode ter sido uma recomendação do engenheiro Farinha Filho, proprietário do imóvel onde o casal Martins residia no Rio de Janeiro. Nova Friburgo não lhe era desconhecida, pois o seu filho Abílio era interno no Colégio Anchieta.


Antônio Alves Pinto Martins, o “Seu Martins”, como era conhecido, adquiriu, em 1914, o imóvel da Família Salusse conhecido como Sítio do Relógio, propriedade com extensão de 667.749 m². Explorando comercialmente a chácara, construiu o “Mercado Villa Amélia”, onde vendia laticínios como leite, queijo e manteiga, verduras, legumes, frutas frescas e em conserva, mel e linguiças defumadas. Apesar da memória familiar não fazer qualquer alusão, possivelmente fabricava vinho, pois tinha videiras com uvas de qualidade e uma árvore de cortiça em sua propriedade para fazer rolhas. Em Janeiro de 1915, registrava a logomarca V.A., de Villa Amélia, com um V e um A entrelaçados. Todos os produtos comercializados tinham essa logomarca. Para complementar a renda, alugava cinco casas dentro de sua extensa propriedade. A sua linda residência levou aproximadamente dois anos para ser construída, ficando conhecida como Mansão da Villa Amélia. Ficava em um planalto, a 195 metros da entrada da Villa Amélia. Foi inaugurada dia 18 de maio de 1916, tendo sida benzida por Monsenhor José Alves de Miranda. Lindas glicínias formando trepadeiras na varanda enfeitavam a frente da casa.


Amélia, que deu nome à vila era o xodó da família Martins, por ser a única menina entre os sete filhos homens: Camillo (que morreu criança), Aníbal, Antônio, Abílio, Álvaro, Alberto e Alfredo. Amélia nasceu no Rio de Janeiro, em 11 de setembro de 1898. Devido ao grande amor filial a única menina a residência da família em Nova Friburgo foi denominada de Villa Amélia. Amélia tinha aulas de francês, piano e bordado como qualquer moça da elite de seu tempo. Casou-se em maio de 1919, aos 20 anos, com o português Antônio Almeida. A cerimônia foi celebrada ao ar livre por Monsenhor José Alves de Miranda, na Villa Amélia. Por ser o noivo proprietário da Confeitaria Palace, no Rio de Janeiro, todo o serviço foi realizado pela confeitaria. A família do noivo vivia em Portugal, razão pelo qual a lua de mel foi nesse país para que Amélia fosse apresentada a família do noivo. Amélia e Almeida tiveram sete filhos e viveram nos primeiros tempos de casados em Nova Friburgo. Almeida trabalhando na Confeitaria no Rio, somente ia aos fins de semana para a Villa Amélia. Devido a uma doença da quarta filha de Amélia, a família mudou-se para Portugal em 1929, morando em Lisboa. Enquanto residiram em Portugal, Amélia teve dois filhos. A família residiu em Portugal durante sete anos, e em 1936, retornaram ao Brasil, após a cura da filha, indo morar novamente na chácara da Villa Amélia. Depois de alguns anos Amélia e o marido se mudaram definitivamente para Niterói. Amélia Martins de Almeida faleceu em 16 de Fevereiro de 1950, com 51 anos de idade, um ano antes da venda da vila que levava o seu nome: Vila Amélia. Na chácara da Vila Amélia, pomar com pereiras, macieiras, goiabeiras, canforeiras, jabuticabeiras, laranjeiras, caquis, tojos, bananeiras, pita e nêsperas cujas mudas vieram de Portugal. No brejo plantavam hortaliças, legumes e aspargos. Havia a “árvore do palito” que se fazia nada menos que palitos. Na entrada, muitas hortênsias ladeando todo o caminho até se chegar à casa da família. No meio de uma enorme touceira de hortênsias se erguia um majestoso e imponente Sobreiro, árvore que Antônio trouxe de Portugal e de onde se tira a cortiça para fazer rolhas das garrafas de vinho que possivelmente produzia. À frente da casa, à direita, havia um lago com peixes, um chafariz e muitas flores: margaridas, azaléas, orquídeas, palmeirinhas, cravos, boca de leão e roseiras raras, onde se fazia enxertos delas. Na Exposição do Centenário da Independência em 1922, os Martins lotaram um vagão de carga da Leopoldina Railway com flores para serem exibidas na exposição. Na chácara havia duas nascentes próprias e uma delas com uma queda d ́água que formava uma cascata que deram o nome de Cascata Carolina. A água era cristalina e potável e formava uma piscina natural entre as pedras. Um moinho e um riacho acionava um monjolo com um cata-vento. Excursão ao Morro das Duas Pedras era um dos passeios prediletos dos Martins. Havia uma trilha no meio da mata até essas montanhas. Uma nascente no caminho era ponto obrigatório para um pic nic e para encher os cantis. De lá apreciavam a vista de Nova Friburgo.


A mansão da Vila Amélia tem um estilo muito parecido com a residência dos Galdino do Vale. Na residência uma imponente escada de pinho de riga com três lances de escadas. Na parede um vitral colorido, vindo da Europa, ocupa toda a altura da casa. Nos compartimentos, a sala principal, a copa, a adega e a cozinha com fogão à lenha e serpentinas que forneciam água quente para toda a casa. A residência tinha seis quartos em cima e um enorme banheiro. As louças, jarros d’água, bacias e saboneteiras eram todas em faiança portuguesa e tinha o monograma AM, de Antônio Martins, assim como as toalhas, guardanapos e roupas de cama. Periodicamente, Antônio Martins encomendava peças para repor a baixela que quebrava da fábrica portuguesa de porcelanas, Vista Alegre. Essa empresa enviava os desenhos para ele escolher o seu preferido. O Córrego do Relógio, que passa pelo atual bairro da Vila Amélia, era canalizado e circundado por videiras plantadas por Antônio Martins que produziam saborosas uvas. As videiras desciam pelo córrego sobre uma pérgula de ferro e forneciam sombra aos que por ali transitavam nos dias de sol causticante. Os veranistas que passeavam da Praça do Suspiro geralmente percorriam as margens do Córrego do Relógio apreciando suas videiras até alcançar a chácara de Antônio Martins para adquirir o seu famoso mel. Martins trouxe de Portugal a árvore que florescia a “flor de tojo”, cujo pólen servia para o seu apiário. A família se orgulhava do mel produzido, o mais apreciado na cidade, que chegou a ganhar Medalha de Ouro em Bruxelas, a Medalha Mel Flor de Tojo. Desde então, foi feito um rótulo com a estampa da medalha e colocado nos frascos do mel. Estábulo, paiol, vacas, cabras, porcos, enfim, a chácara localizada no coração da cidade atraía a atenção de todos. A charcutaria é uma tradição portuguesa. Em um galpão ficava o fumeiro onde eram defumadas as linguiças de porco, feitas na propriedade. As linguiças de porco eram dispostas e penduradas nos varais e em baixo se queimava a lenha para defumar. De acordo com a memória familiar, quando se matava um porco os pedaços eram colocados em vasilhames enormes de barro e encobertos por banha derretida que ao esfriar se solidificava, ficando branca como a neve. A carne mergulhada era usada quando necessário e poderia ficar nesse recipiente por meses ou até um ano e se tinha sempre pernil fresquinho. Nos outros galpões ficavam peças para lavoura e o moinho usado para moer o café plantado na propriedade.


Antônio incentivou o filho Aníbal a estudar em Portugal e na França, onde se formou em comércio; o segundo filho, Antônio, estudou em um colégio jesuíta de Lisboa. Já Abílio, que era interno no Colégio Anchieta desde que a família morava no Rio de Janeiro, frequentou uma universidade nos Estados Unidos. Seus demais filhos estudaram no Colégio Anchieta. Antônio Alves Pinto Martins faleceu dia 25 de junho de 1924, com 62 anos, na Vila Amélia. Já a matriarca da família, Carolina Martins, faleceu em 1945, com 82 anos de idade. Há muitos anos, nenhum membro da família Martins residia em Nova Friburgo, mas em Brasília, Minas Gerais, e deles em Manaus. Um dos filhos, Alfredo, resolveu residir com a família quando do falecimento da mãe. Habitou a Vila Amélia até o ano de 1948, para dar prosseguimento aos negócios da família. No entanto, as despesas suplantavam em muito a receita.


A linda chácara de Antônio Alves Pinto Martins estava com os dias contados. O então prefeito de Nova Friburgo, José Eugenio Müller, que se correspondia com Amélia, pretendia adquirir a propriedade para a Fundação da Casa Popular ou para a Prefeitura de Nova Friburgo, para ali ser construída uma Vila Proletária devido a sua proximidade com a Fábrica Filó. O inventário foi terminado em 1947, ficando o imóvel em condomínio. Como havia muita discórdia entre os irmãos, ficaram entre a extinção do condomínio e divisão do imóvel ou a sua alienação em hasta pública. Como não houve acordo para a extinção do condomínio, o imóvel foi a leilão, em 1951, sendo arrematado por um valor aquém do esperado. A Câmara Municipal adquiriu parte dos terrenos da Villa Amélia. A instalação da delegacia e carceragem durante décadas deteriorou e descaracterizou a mansão da Vila Amélia. A AFAPE, proprietária do imóvel, não tem condições financeiras de restaurá-la e mesmo de mantê-la. A linda chácara e residência de Antônio Pinto Martins, que encantava tantos os veranistas, precisa de ajuda. A história da família Pinto Martins é igualmente a história de Nova Friburgo.



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