Fazenda da Cachoeira do Amparo. Localizada no distrito de Amparo, trata-se de uma fazenda histórica do século 19, que pertenceu a uma das famílias mais importantes de Nova Friburgo, os Neves. A história dessa região tem início com a Fazenda de São Simplício, um latifúndio que possivelmente naquela ocasião tinha uma extensão de 2.178 hectares. Há divergência entre os historiadores se teria pertencido a Elias José Caetano ou a João Luiz Ribeiro. De qualquer forma, a história de Amparo tem início a partir da Fazenda de São Simplício. No ano de 1858, foi criada a Sociedade Fundadora da Freguesia de São José do Ribeirão com o objetivo de vender ou aforar glebas de terra da Fazenda de São Simplício. Desmembrado, esse latifúndio daria origem não só a muitas outras fazendas como igualmente a freguesia de São José do Ribeirão. Transformar-se em freguesia era resultado do crescimento demográfico e econômico. Isso ocorreu principalmente pela migração de colonos suíços e alemães para essa região em busca de terras mais quentes para o cultivo do café. No ano de 1879, uma dessas glebas de terras da outrora Fazenda de São Simplício foi adquirida por José Antônio Marques Braga, denominando-a de Fazenda da Cachoeira do Amparo. Normalmente as fazendas tinham o nome de um santo ou de uma indicação geográfica, e no caso dessa propriedade, recebeu o nome de uma belíssima cachoeira que existia no local. Marques Braga vendeu essa propriedade para o seu meio irmão, Coronel Galiano Emílio das Neves Junior. Posteriormente outras glebas de terras foram sendo adquiridas e anexadas a Fazenda da Cachoeira do Amparo, passando a propriedade a ter 250 alqueires ou 680 hectares, aproximadamente 30% da extensão da outrora Fazenda de São Simplício.
A história da família Neves tem início com os irmãos Galiano Emílio, Galdino Emiliano e Joviano Firmino. No século 19, deixaram a Vila de São João del Rei, em Minas Gerais e se estabeleceram na Vila de Nova Friburgo. O Coronel Galiano Emílio das Neves foi quem primeiro residiu na vila serrana. Nascido em São João del-Rei em 1826, foi para o Rio de Janeiro ingressando no Curso de Medicina. Vítima da tuberculose interrompeu os estudos na faculdade e fixou residência em Nova Friburgo, cujo clima salubre ajudava na convalescência dessa doença. Os irmãos Galdino Emiliano e Joviano Firmino das Neves seguiram os passos do irmão. O Coronel Galiano Emílio das Neves casou-se com a viúva Josephina, filha de família franco-suíça, proprietários Hotel Salusse. Trocou o amanho da terra pela educação e pela política. Adquiriu na vila o Instituto Colegial, do inglês John Freese, e lecionava nesse estabelecimento de ensino. Foi vereador em diversos mandatos participando da política local. Galiano Emílio das Neves faleceu no ano de 1916, aos 90 anos de idade. Seu filho Galiano Emílio das Neves Junior o sucedeu na política local. Galiano Junior, conhecido como Coronel Chon-chon, era um político influente e um fazendeiro dedicado ao plantio do café. Além da Fazenda da Cachoeira do Amparo possuía a Fazenda de São Bento, que na ocasião fazia parte de uma freguesia de Nova Friburgo e que hoje pertence ao município de Sumidouro. Na Fazenda de São Bento, por se situar nas Terras Frias, Galiano Junior não pode cultivar o café, mas aproveitou a baixa altitude de Amparo para plantar esse tipo de cultura. Tudo indica que a Fazenda da Cachoeira do Amparo se tornou a mais importante unidade produtiva de Nova Friburgo. No ano de 1920, registrou uma produção de 12.000 arrobas de café, além do cultivo de cana-de-açúcar e cereais, conforme o Caderno Terra Fluminense. Galiano Junior realizou diversas benfeitorias na propriedade. Mandou construir em cantaria as banquetas que conduziam a água para o engenho de café, importou da Inglaterra uma enorme roda d’água que tocava as roldanas e beneficiava o café que descia pelas peneiras. Sua administração na fazenda foi no período de 1890, até o seu falecimento em 29 de agosto de 1922.
Após a morte de Galiano Junior a Fazenda da Cachoeira do Amparo passou a ser administrada por seu filho José Galiano das Neves. Esse último acrescentou um andar superior na casa-sede da fazenda, realizou diversas benfeitorias e deu continuidade a atividade econômica da propriedade. Com o decorrer dos anos passou a administrar somente a Fazenda de São Bento, deixando a administração da Fazenda da Cachoeira do Amparo com a sua mãe Dona Vitalina Fontes das Neves. Em uma foto no ano de 1935, podem-se ver os dois terreiros de secagem de café repletos de grãos. Isso significa que a família Neves resistiu ao colapso de 1929, crise essa que provocou a falência de muitos fazendeiros nesse ramo de negócio. No entanto, com o passar dos anos as lavouras de café na Fazenda da Cachoeira do Amparo foram sendo reduzidas e dando lugar a culturas de flores, banana, feijão e milho.
Dona Vitalina administrou a fazenda até o seu falecimento no ano de 1968. Desde então, a Fazenda da Cachoeira do Amparo foi transmitida, por herança, a Vitalina das Neves Lange e a Walther José Seng das Neves. Esse último vendeu a sua parte para a irmã. Berndt Lange, casado com a herdeira Vitalina, manteve uma pequena lavoura de café e se voltou à criação de gado e cavalos da raça campolina. Depois de ter pertencido há mais de um século a família Neves, há alguns anos atrás a Fazenda da Cachoeira do Amparo foi vendida a um particular que não deseja ter a sua identidade revelada. Com os novos proprietários, a fazenda passou por uma grande reforma e restauração. A casa-sede de dois pavimentos, que já havia desabado muitos anos antes, foi reformada mantendo-se o estilo colonial, mas ficou somente com um andar. Dentro do imóvel foi reproduzido em um dos cômodos um bar bem ao estilo brasileiro do século passado, com peças garimpadas principalmente no Estado de Minas Gerais. O tradicional baleiro, o fumo de rolo e a balança com várias medidas de peso compõem o cenário do bar. Alguns assentos imitam galões de leite e variados chapéus compõem o ambiente. Peças de carro de boi como a canga e a roda, dormentes do trilho do trem, entre outros artefatos antigos fazem parte da ornamentação externa da propriedade. A roda d’água importada da Inglaterra foi restaurada e voltou a funcionar. Havia na fazenda dois terreiros para secar os grãos de café. O terreiro de cima, em um platô acima do engenho e o terreiro de café de baixo, próximo à casa de vivenda. O antigo paiol vai se tornar uma área social e toda a estrutura de pedra de suas paredes estão sendo aproveitadas. O lago foi igualmente mantido na propriedade com a introdução de diversas aves aquáticas e espécies de peixes. Nada foi removido pelos atuais proprietários do que restou dessa fazenda histórica. Foram mantidas as estruturas de pedras das antigas construções e igualmente as benfeitorias. Quando a Fazenda da Cachoeira do Amparo passou a ser de propriedade de Coronel Chon-Chon a escravidão já havia sido extinta. Mas os proprietários anteriores tiveram escravos, pois havia uma senzala na fazenda e instrumentos de castigos, conforme relatos de moradores locais.
No censo 1872, a população escrava dessa localidade era a maior da Vila de Nova Friburgo, com 3.072 escravos de um total de 6.684 indivíduos cativos. No entanto, a senzala foi desfeita por uma das gerações da família Neves. É uma prática muito comum dos que herdam ou adquirem fazendas do período do Império apagar a memória da escravidão. A pequena capela da fazenda foi reformada e mobiliada com bancos e algumas peças religiosas. A criação de cavalos é mantida pelos atuais proprietários. Percebe-se que o objetivo é tornar a Fazenda da Cachoeira do Amparo em um local muito mais de lazer do que propriamente uma unidade produtiva como fora no passado. Os Galiano das Neves são ligados ao tronco familiar do ex-presidente Tancredo Neves e foram importantes políticos e atores históricos em Nova Friburgo. Tiveram uma rivalidade aguerrida contra outro importante político Galdino do Vale Filho. Na Revolução de 30, participaram em Nova Friburgo ativamente ao lado das forças revolucionárias. No entanto, deixaram a cena política no município desde o falecimento do Coronel Chon-Chon. A maior parte da família tem domicílio em outras cidades como o Rio de Janeiro, mas ainda possuem propriedades em Nova Friburgo. Mas em razão herança atávica a seus ancestrais continuam a manter vínculos afetivos com o município.
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