Rodolfo Abud reúne um baú de histórias em suas memórias: vivenciou a formação da Rádio Friburgo, dos clubes de futebol e dos jogos florais em Nova Friburgo. Por mais estaques que possam parecer estes três assuntos, tanto o esporte quanto os jogos florais devem o seu desenvolvimento a um primeiro acontecimento: a criação da Rádio Friburgo, que o vulgo chamava de Rádio Cipó. A Rádio Cipó surgiu em 1946, e foi uma verdadeira revolução na cidade, nos relata Rodolfo Abud em suas memórias. Mas ouvir rádio naquela época não era uma atitude individual como hoje, era coletivizada. Isto ocorria porque quando surgiu o rádio, nem todos poderiam possuir o aparelho. As pessoas que possuíssem o aparelho em casa ainda tinham que pagar uma licença. Caso o fiscal fosse à residência dos possuidores do aparelho de rádio e o indivíduo não apresentasse a licença paga, sofria pesada multa.
Como nem todos o possuíam, a Rádio Cipó colocava alto-falantes em frente à rádio e o povo, sentado nos bancos da praça, parava para ouvir sua programação. Bares e restaurantes investiam nestes aparelhos, pois era um atrativo para clientes. Comércio sem rádio perdia a freguesia. Quem vendeu os primeiros aparelhos de rádio na cidade foi Dante Lívio, na loja A Sinfonia, situada na atual Praça Getúlio Vargas. Ele igualmente também colocava alto-falantes pendurados nas árvores da praça tocando sucessos musicais da época. Mas por que Rádio Cipó? Tinha este nome porque o povo de Friburgo dizia que bastava estender um cipó que a rádio pegava. O Dr. Aloísio gostou da brincadeira e criou o bordão: “Rádio Cipó, sempre amiga.”
A rádio funcionava em um sobrado na Praça Getúlio Vargas e formou grandes nomes do rádio, que depois trabalharam na Rádio Nacional e Rádio Globo, como Hugo Rodolfo, que criou “o globo no ar”, Jorginho Abicalil, Edmo Zarif, Carlos Rosemberg, Mário Thurler, entre outros. A rádio tinha os programas de auditório onde um grupo regional composto de violão, pandeiro e sanfona acompanhavam os candidatos. Quem era desafinado o cachorro latia. O auditório da rádio lotava. O Sr. Abud nos informa que alguns chegaram a cantar na Rádio Nacional do Rio de Janeiro. E havia ainda as novelas. Os textos eram do Sr. Aloísio e outros colaboradores. As novelas poderiam durar uma semana ou mesmo um mês. Rodolfo Abud tem histórias divertidas sobre estas novelas. Certa feita, uma das atrizes pediu ao Sr. Aloísio para sair do elenco, pois seu namorado estava muito enciumado, ao que o Sr. Aloísio retrucou: “Minha filha, faça ao menos a novela hoje que a mataremos e ficará tudo bem.” Em certa ocasião, um ator da novela devendo matar um outro personagem, bradou: “Eu vou matá-lo com um tiro”. No entanto, o contra-regra não conseguia acionar a bombinha para simular o tiro do revólver. O ator improvisou: “Não, eu vou é te matar a facada.” Neste instante, a bombinha funcionou e o tiro disparou. Eram situações que programas ao vivo ocasionavam. A Rádio Cipó ajudou a difundir o futebol na cidade, na voz de Rodolfo Abud, narrando as partidas entre os quase dez times que Friburgo possuía no auge do seu futebol, entre as décadas de 40 e 70.
Não havia interferência política, pois era um espaço aberto a todos. A rádio transmitia os comícios e até mesmo as reuniões dos partidos. Foi ainda graças à Rádio Cipó que as trovas se implantaram em Nova Friburgo. A Rádio Cipó, com 64 anos idade, é hoje, a nossa Friburgo AM, que tanto vem servindo à região serrana. Sempre presente no cotidiano da cidade, não foi por acaso que a Rádio Cipó tinha o seguinte bordão: “Rádio Cipó, sempre amiga”.
Todas as imagens são do acervo da Fundação D. João VI.
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