“....fomos honrados com a Augusta visita de SS.AA. Imperiais, e por essa ocasião autorizamos ao sr. Fiscal fazer certos serviços para embelezamento da vila a fim de recebermos os Augustos hóspedes...” (Ata da 4ª sessão ordinária, em 21 de novembro de 1868). Em 1868, a Princesa Imperial e o Conde D’Eu estiveram na pacata vila de Nova Friburgo. Todos fizeram a sua parte: os moradores limparam as testadas de suas residências, iluminaram suas frentes durante a estada dos augustos príncipes, a Câmara Municipal caiou seu prédio e a cadeia, recolheu os animais soltos e grandes festejos foram realizados na vila. A princesa foi homenageada com o nome de uma praça e o conde com nome de rua. A “Praça da Vila” passou a denominar-se Praça Princesa Isabel. Posteriormente, na proclamação da república, passou a chamar-se Praça 15 de Novembro e por ocasião da Revolução de 30, Praça Getúlio Vargas, sempre alterando o seu nome de acordo com os ventos políticos. Nessa ocasião, ao que parece, veio com uma vasta comitiva, a exemplo dos embaixadores chilenos. A família real oferecera à embaixada chilena, na Cascata Pinel, uma “festa campesina” a que compareceram D. Pedro II e o Conde d’Eu. Nessa ocasião, Carlos Pinel fez gravar em um dos granitos da cascata de sua propriedade, em homenagem à Princesa Isabel, a seguinte inscrição: Cascata Santa Isabel.
Nova Friburgo, pelas condições climáticas favoráveis à cura de determinadas doenças, aliado ao seu Estabelecimento Hidroterápico, fez parte de uma interessante passagem da história da família real portuguesa que envolvia a sucessão do trono imperial. D. Pedro II, excluindo os natimortos, teve duas filhas com D. Teresa Cristina: a Princesa Isabel e Leopoldina. Ambas casaram-se com dois primos de casas reais europeias, os Orleáns(Conde d´Eu) e Saxe-Coburgo(Gusty). D. Pedro II não as queria casadas com portugueses, pois segundo o Imperador, seria como voltar aos tempos da colonização. No entanto, enquanto Leopoldina, a mais nova, engravidava sucessivamente, o útero de Izabel permanecia vazio. A Princesa Izabel se casara em 15 de outubro de 1864 com o Conde d´Eu, e não conseguira engravidar durante dez anos desde o seu casamento. Como disse Flaubert, uma mulher sem filhos é uma monstruosidade.
A infertilidade era considerada como uma doença, dando-se o nome de “frialdade” ou “frigidez”. Recomendava-se, à época, tomar chá de erva de carrapato, de figueira-do-inferno ou ainda fazer um defumadouro das partes íntimas com uma erva chamada pombinha. Novenas à Santa Ana e Santa Comba, padroeiras da fertilidade conjugal, não faltavam. A Princesa Isabel sentia-se constrangida em fazer com que o marido se sujeitasse às crendices nacionais para provocar a gravidez nas mulheres, compelindo-o a urinar no cemitério pela argola de uma campa, ou ainda que untasse a região púbica com sebo de bode, ou bebesse garrafadas de catuaba. Ele a tomaria por uma primitiva. Além do desejo materno de ter um filho, a Princesa Isabel ainda tinha a questão da sucessão, pois se não tivesse herdeiro, provavelmente o trono seria ocupado, com a morte de D. Pedro II, por seu sobrinho, Pedro Augusto. A infertilidade da Princesa Isabel já havia gerado, inclusive, expectativa em Pedro Augusto, o “Príncipe Maldito”, cuja história é narrada no livro de Mary Del Priore. A Princesa Isabel começou a recorrer ao tratamento à base da hidroterapia o qual se julgava aconselhável para a suposta esterilidade de que padecia. Então, Nova Friburgo começa a entrar nessa história, pois abrigava o Instituto Hidroterápico que funcionava onde é atualmente o C.N.S.Dores. Em 1872, o médico italiano Carlos Eboli inaugurou, em Nova Friburgo, o Estabelecimento Hidroterápico a título de “Casa de Saúde”, “Casa de Duchas” ou “Estabelecimento Sanitário Hidroterápico”.
A Princesa Isabel já recorrera a Caxambu e Lambari(MG) para tomar banhos de águas milagrosas. Estações termais, hidroterapia, novenas, viagem a Lourdes(Portugal) fazendo promessas a Santa Bernadette e finalmente tratamento com um especialista na Europa, a tudo a princesa recorreu. Em 1874, a Princesa Isabel retorna a Nova Friburgo acompanhada do pai, D. Pedro II, e de sua dama de companhia, a Condessa de Barral, ficando hospedados no Hotel Leuenroth. A princesa procurava as qualidades da hidroterapia no milagroso clima da cidade salubre, para a cura de sua frigidez. Fizera abluções repetidas na água na tentativa de tornar o útero fecundo. O procedimento da hidroterapia consistia na aplicação externa (duchas) e interna de água. Externa sob a forma de aspersão, banhos e aplicação de toalhas molhadas. Interna, com a ingestão de abundante quantidade de água, na maioria das vezes, fria ou gelada. Tais recursos eram associados a sudoríferos energéticos, massagens prolongadas, exercícios constantes (caminhadas em ladeiras) e alimentação balanceada.
Coincidentemente, no ano seguinte de sua vinda a Nova Friburgo, em 1875, depois de dez anos de infrutíferas tentativas, a Princesa Izabel finalmente engravidara. Seria leviano estabelecer aqui uma relação direta do tratamento da hidroterapia na gravidez da princesa, mas podemos afirmar que Nova Friburgo lhe deu sorte. Teria experimentado as águas da mítica Fonte Encantada do Suspiro? Mesmo tendo abortos naturais sucessivos e uma filha natimorta, a Princesa Isabel deu à Coroa dois herdeiros: Baby e Luís. E foi em razão desse drama pessoal da princesa, que Nova Friburgo tem uma pequena participação nessa história.
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