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Foto do escritorJanaína Botelho

O IMPACTO DA REVOLUÇÃO DE 30 EM NOVA FRIBURGO

Atualizado: 1 de mar. de 2021



Em 03 de outubro, a Revolução de 30 completa oitenta anos. Nova Friburgo tem algo a contar desse importante acontecimento histórico que provocou uma ruptura política das mais impactantes na história nacional. A proclamação da República em 1889, trouxe ao cenário político apenas uma novidade: a centralização do Império deu lugar ao pleno domínio dos fazendeiros no quadro político nacional, fragmentando o poder, que ficou nas mãos das oligarquias locais. A denominada política dos governadores enfraqueceu o Estado e dominou a República Velha até a Revolução de 30. Entre essas oligarquias predominavam os paulistas e os mineiros: o primeiro, pelo fator econômico, a supremacia do café e o segundo por tratar-se do mais populoso Estado da federação, o que mais poderia influenciar nas votações presidenciais.


Os problemas sociais e políticos no país, a insatisfação do exército com as oligarquias rurais, tudo isso gerava fortes tensões na sociedade. Mas quem forneceu a pólvora para eclodir a revolução foi Washington Luis. Ao contrário do que era esperado nas eleições presidenciais, o então presidente não indicou um mineiro para sucedê-lo, como vinham fazendo São Paulo e Minas Gerais se revezando no governo presidencial na denominada política do Café com Leite. Indicou o paulista Júlio Prestes. Getúlio Vargas apoiado por setores descontentes do exército e pelas oligarquias dissidentes fundou o partido da Aliança Liberal, lançando-se candidato. Júlio Prestes foi eleito presidente da república em um quadro de fraude eleitoral, bem característico da República Velha. Em 03 de outubro de 1930, civis e militares(exército) iniciaram a revolução que teria efeito fulminante, terminando no dia 24 daquele mesmo mês. Tomava posse em novembro o novo chefe do governo provisório: Getúlio Vargas. Mas qual foi o impacto da Revolução de 30 em Nova Friburgo?


Galdino do Vale Filho, outrora deputado federal, apoiava o governo de Washington Luis e conseqüentemente o seu indicado Júlio Prestes. No Centro de Documentação D. João VI há dois jornais, A PAZ, do próprio Galdino do Valle e O NOVA FRIBURGO que nos mostra a temperatura política da época. Em A PAZ nos editoriais “O dever dos Fluminenses” (28 de julho); “A candidatura Julio Prestes” (01 de setembro); “Panorama Político” (12 de setembro); “A sucessão presidencial” (13 de outubro); “Que resta, pois a Aliança” (10 de novembro); todos de 1929, Galdino do Valle Filho apóia abertamente Washington Luis. Infelizmente, os jornais do ano da revolução não possuímos.


No entanto, O Jornal, dos diários associados, de 26 de novembro de 1930, nos dá a dimensão de como transcorreu a revolução em Nova Friburgo. Os municípios do Estado do Rio não estavam pela sua situação geográfica e pela desagregação política do partido dominante nos cálculos militares dos revolucionários, nos informa o jornal. Mas em Nova Friburgo uma voz se levantou: a de José Galeano das Neves. Originário de uma das primeiras e mais tradicionais famílias de Nova Friburgo, seu pai e avô participaram da vida política do município desde meados do século XIX. Família oriunda de São João Del Rei, do tronco familiar de Tancredo Neves, o fato de Galeano possuir ligação política com Minas Gerais, pois toda sua parentela mineira era de políticos, colocava os Neves como aliados naturais desse Estado e consequentemente contra a indicação do paulista Júlio Prestes. Afinal, era a vez de Minas Gerais dar um presidente ao país e os Neves eram importantes atores políticos nesse Estado, como são até hoje, a exemplo de Aécio Neves.


De acordo com Galeano “somente com um movimento armado poderíamos sair do descalabro em que vivíamos (...) pensava e disto tenho agora a prova, que o Brasil só se salvaria com uma revolução que sacudisse todo o seu aparelho político administrativo”. Conforme O Jornal, os civis fluminenses surpreenderam os revolucionários, aliando-se aos militares nas ações armadas e articulações políticas. O Partido Democrático Fluminense convidou José Galeano das Neves a organizar em Friburgo “elementos que pegassem em armas quando fosse necessário”. Galeano fora escolhido porque reunia todas as condições para liderar o movimento em Nova Friburgo: Era ligado a Minas Gerais por laços familiares e político; era inimigo ferrenho do legalista Galdino do Vale Filho; homem de posses e líder no município por vir de uma família tradicional de políticos. Mas Galeano era civil e necessitava do apoio de um estrategista militar para coordenar as primeiras ações que denominou de “conspiração friburguense”.


Para tanto, convidou seu amigo de infância Brasiliano Americano Freire, oficial da Escola Militar e afastado de suas funções por ter tomado parte no Levante de 1922, e que oportunamente residia escondido em Friburgo, adotando identidade falsa e dando aula nos colégios locais. Foi o capitão Americano Freire quem auxiliou Galeano e cuidou da logística militar no município. Depois de cooptar um chefe militar procurou um aliado político na figura do advogado Comte Bittencourt.


Na primeira reunião na residência de Galeano ficou decidido que os conspiradores ocupariam Friburgo, contando com seiscentos homens fornecidos pelo coronel Christiano Ribeiro e que deveriam acantonar em Porto Novo. Nesse município iriam se apossar das armas da linha de tiro e danificar, se fosse preciso, as obras da estrada da serra. O capitão Americano Freire marcharia para Porto Novo onde reuniria o contingente de voluntários fluminenses às forças mineiras. Mas essas ações apenas ocorreriam se a revolução tivesse irrompido em 06 de setembro, o que não ocorreu. Galeano das Neves, decepcionado pela revolução ainda não ter eclodido, ficou aguardando ordens em Friburgo para reiniciar as “atividades revolucionárias”. Quando a Revolução irrompeu em 03 de outubro achava-se em sua Fazenda de São Bento e soube do acontecimento apenas dois dias depois devido ao seu isolamento. Os irmãos Sylvio, Carlos e Alberto Braune Filho, o Betinho, que haviam se encarregado do transporte de armamento a Porto Novo, estavam com ordem de prisão decretada pelas autoridades legalistas de Friburgo. Galeano das Neves os escondeu em sua fazenda e dali partiram todos para Porto Novo para engrossarem a coluna de seu amigo o capitão Americano Freire, que já ocupava aquela cidade mineira.


As cidades de Mar de Espanha, Angustura, Volta Grande e Aventureiro foram, além de Porto Novo, ocupadas pelas tropas friburguenses. Nas proximidades da cidade de Carmo, na Fazenda Boa Esperança, achavam-se algumas centenas de pessoas sob a chefia de Galdino do Valle Filho. Galdino organizara um batalhão de friburguenses e

partira para enfrentar os revolucionários na divisa do município de Carmo. O capitão Mury, aliado de Galeano, percebendo que uma força legalista procurava ocupar um ponto em lugar estratégico de Porto Novo, atravessou o rio com a sua coluna e desalojou o adversário após um “áspero combate”, apreendendo metralhadoras, fuzis e fazendo 13 prisioneiros na frente legalista. Galeano das Neves foi incumbido de ocupar em território fluminense a fazenda do Barão do Paraná, assim o fazendo sem que houvesse resistência. Em Friburgo já se encontrava a polícia federal com canhões e com um efetivo de mais de mil homens que pretendiam atacar Porto Novo no dia 26 de outubro.


A Revolução de 30 triunfou e se iniciou a caça às bruxas. Galdino do Valle foi preso em outubro do ano seguinte. Foi recolhido inicialmente no Sanatório Naval e depois conduzido a Casa de Detenção do Rio de Janeiro. Nessa ocasião, ficou detido apenas quatro dias. No tocante aos demais partidários de Washington Luis, a exemplo dos Spinelli, ficaram detidos na cadeia da cidade, onde hoje é o Porão do Centro de Arte. Quando as tropas revolucionárias friburguenses chegaram de trem a Nova Friburgo, boa parte da população foi recebê-los na Praça 15 de Novembro(atual Getúlio Vargas). Relembra esse dia a memorialista Yolanda Cavalieri d´Oro: “Quando a revolução triunfou, fomos para a Praça (refere-se a Getúlio Vargas) ver a chegada dos vencedores trazidos no trem. Estava todo mundo na rua, se acotovelando para ver melhor.(...) Lá pelas tantas o povo resolveu destruir a estátua do líder político de Nova Friburgo, o Sr. Galdino do Valle. Ele, que fora sempre venerado por todos, era agora, na fúria da paixão política, vítima do vandalismo desenfreado, comum nessas ocasiões. Quando a estátua rolou do pedestal, apareceu meu tio Dante, mancando e carregando uma bandeira vermelha(símbolo do galdinismo) que colocou triunfalmente no monumento decepado. Palmas delirantes da multidão....” Dante Lívio, revolucionário e conhecido comerciante local, simbolicamente enterrava Galdino do Vale Filho. Galdino foi rotulado de “carcomido”, como ficaram igualmente conhecidos todos aqueles que defenderam Washington Luis. Era o fim de uma era política. Abaixo a chegada vitoriosa dos revolucionários, vindos de Porto Novo, ao centro de Nova Friburgo.


A Revolução de 30 teve forte repercussão em Nova Friburgo por três fatores: primeiro pela sua posição geográfica, próxima da Capital da República, sede do governo federal e palco dos acontecimentos. Segundo pela sua forte relação com o Estado de Minas Gerais, que remonta desde a fundação do município, pois muitos mineiros migraram para Nova Friburgo com quem tinha estreitas relações comerciais. A terceira e principal razão foi o fato de em Nova Friburgo residir um membro aparentado da elite política mineira: Galeano das Neves. Possuindo forte liderança local era o instrumento perfeito para os mineiros revolucionários. Além disso, tradicionalmente sua família sempre fora oposição política ao legalista Galdino do Vale Filho. Galeano das Neves foi o articulador político da insurreição friburguense e ganhou as páginas do jornal carioca. Com isso, colocou Nova Friburgo a cavaleiro na Revolução de 30.

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