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Foto do escritorJanaína Botelho

IMAGENS DE EX-ESCRAVOS EM NOVA FRIBURGO?

Atualizado: 24 de mai. de 2021



Quando eu fazia a seleção de fotografias para um artigo que escrevi sobre a história de uma instituição de caridade para o meu blog, um detalhe me chamou a atenção em relação às imagens. Refiro-me a Casa São Vicente de Paulo que a população de Nova Friburgo se habitou a chamar de Casa dos Pobres. Esta instituição de caridade inicia suas atividades no ano de 1933 com as irmãs trapistas, para o acolhimento de idosos carentes e desprovidos de assistência. Somente na década de 1950 passa a receber também pessoas com necessidades especiais. Observando algumas legendas das fotos constatei em uma série que muitas delas foram tiradas na década de 1930. Tratava-se do registro dos primeiros anos de funcionamento do asilo. Nas imagens haviam muitos idosos negros que tinham uma faixa etária entre 80 e 90 anos ou mais naquela década. Imaginei que poderiam ter sido ex-escravos. Vamos analisar um único caso que pode comprovar a minha tese. No ano de 1935, por exemplo, dois anos depois que o asilo foi aberto, se um destes idosos acolhidos tinha 80 anos, isto significa que ele nasceu em 1855, em plena escravidão. Logo, tudo indica que seriam possivelmente ex-escravos e basta verificar a documentação dos primeiros anos em que o asilo passou a acolher estes idosos para se certificar se eram ou não egressos da escravidão. O primeiro levantamento censitário de abrangência nacional foi realizado em 1872 e nos permite localizar as áreas de concentração de escravos. Na Freguesia de São João Batista, sede da vila, havia 897 escravos em relação à população livre de 5.406 indivíduos. Na Freguesia de São José do Ribeirão era onde havia o maior plantel de escravos com 3.072 cativos para uma população de 4.890 indivíduos livres. Já na Freguesia Nossa Senhora da Conceição Paquequer havia 2.167 escravos e uma população livre de 1.898 habitantes. Em Nossa Senhora da Conceição do Ribeirão da Sebastiana havia 548 escravos para uma população de 1.828 indivíduos livres. Os governos geral e provincial, e tampouco os abolicionistas, não se preocuparam com a inserção social e econômica dos ex-escravos com o fim da escravidão. As famílias escravas eram muito raras nas fazendas produtoras de café, não sendo estimuladas pelos proprietários rurais ainda mais depois que passou a ser proibida a venda em separado da família. Por isto, os libertos que optaram em abandonar as fazendas de café após a abolição da escravidão se viram sozinhos e sem destino. Faltam pesquisas para saber como ocorreu a inserção dos libertos junto a sociedade. De acordo o historiador Boris Fausto em “História Concisa do Brasil” nas regiões de forte imigração, como foi o caso de Nova Friburgo, o negro era considerado um inferior, útil quando subserviente ou perigoso por natureza ao ser visto como vadio e propenso ao crime. No Jornal O Friburguense há um artigo sobre as vítimas do grupo “13 de Maio”. Tudo leva a crer ter ocorrido algum conflito entre os egressos da escravidão e indivíduos do município resultando na morte de alguns deles. Seguem trechos dos artigos relativos a este episódio: “Não pensem as autoridades que fazemos referência aos 13 de Maio, não; entre eles também há gente boa como há ruim nos que libertaram-se antes dessa gloriosa data e entre os que nasceram livres. Devemos banir do nosso espírito e de uma vez para sempre certos preconceitos que só servem para alimentar rivalidades e paixões que nenhum benefício nos trazem. Não há distinções perante a lei, somos todos iguais. Porque um indivíduo tem a pele preta ou escura não tem menos garantia que outro que a tem mais alva; o que vale, o que recomenda-o é o seu procedimento, as suas aptidões, a sua inteligência, a sua aplicação ao trabalho e o respeito que ele guarda as leis e aos seus representantes, esforçando-se por honrar a sociedade em que vive e ao país que nasceu. (O Friburguense, 24/05/1891 e O Friburguense, editorial “A Vadiagem”, 25/10/1891). A seguir o articulista sugere serem os egressos da escravidão intelectualmente incapazes e de fácil manipulação por indivíduos mal intencionados. “Não será difícil caírem na carreira do crime pensando-se que essas infelizes criaturas não terem o precioso conhecimento para conhecerem e diferençar o bem do mal, educadas nas ruas, podem ser vítimas de maus conselhos e perversas seduções...” (O Friburguense, 01/09/1894) Como disse antes, o que ocorreu com os egressos da escravidão nada sabemos, mas os seus rostos possivelmente ficaram registrados pelas irmãs francesas trapistas da Casa São Vicente de Paulo.

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