A condessa de Barral foi a discreta amante de D. Pedro II. Contratada para ser dama de companhia da Princesa Isabel, acabou tornando-se a “alma gêmea” do Imperador, disse ele em seu diário. Filha de usineiros da Bahia freqüentou durante muitos anos os salões da nobreza francesa, resultando disso uma sofisticação que contrastava com a simplicidade da família real portuguesa. Era uma mulher muito culta e a leitura foi uma das afinidades que partilhava com o Imperador, além do amor que os uniram pelo resto de suas vidas. Não era o tipo de amante à la Madame Pompadour, escandaloso e libertino, típico da corte francesa. Ou mesmo a que tivera seu pai D. Pedro I com a Marquesa de Santos. Foi terno, discreto e respeitoso, apesar da esposa de D. Pedro II, Thereza Cristina, suspeitar deste romance. Como o matrimônio dos monarcas eram arranjados, dependente de interesses e convenções era natural naquela época a traição.
Em 1874, a Condessa de Barral acompanha a Princesa Isabel a Nova Friburgo para um tratamento à base de hidroterapia, em razão de uma suposta infertilidade. A hidroterapia era uma doença à época preconizada para a cura dos que sofriam de enfraquecimentos, dispepsias, moléstias nervosas, tuberculose, beribéri, reumatismo, bronquite e outras moléstias. Era um dos maiores da América Latina. Não se sabe por que, mas achou graça das explicações do médico Dr. Carlos Éboli sobre a hidroterapia:“...Hoje visitamos(...) o estabelecimento Hidroterápico onde rimos até não poder mais com as explicações do Dr. Éboli...” O tratamento à base de hidroterapia era baseado em princípios científicos e não um mero experimentalismo como pode ter parecido para a condessa. Inúmeras teses de mestrado em medicina à época discorria sobre as qualidades da hidroterapia na cura de diversas doenças. Retorna a Nova Friburgo no ano de 1876. Hospedara-se na propriedade da família Siqueira de Queiroz em Sebastiana, freguesia de Nova Friburgo, hoje Teresópolis. Em Nova Friburgo visitou a fazenda do Cônego e o chalet do Barão de São Clemente, filho do primeiro Barão de Nova Friburgo. Foi até a Fonte do Suspiro, principal ponto turístico da vila. Acreditava-se que o viajante que bebia um pouco de sua água pura, que jorrava cantante das três fontes, certamente voltaria a Friburgo, porque a saudade lhe encheria o coração. Era uma fonte impregnada de feitiço e lendas. Não fez nenhum comentário sobre a afamada fonte em seu diário.
Outro passeio que estava programado para a condessa era a Cascata Pinel. Situada entre Sumidouro e D. Mariana, era o lugar preferido da elite friburguense para os pic nics, uma forma de sociabilidade muito comum desde o último quartel do século 19. No entanto, a condessa não gostou muito de Nova Friburgo, ou melhor, preferiu Teresópolis, discordando, nesse caso, de D. Pedro II, que preferia Friburgo entre as cidades serranas para fugir do intenso calor do Rio de Janeiro. A condessa disse em sua correspondência ao imperador: “...Acho este lugar lindo[refere-se a Friburgo], porém nada igual a beleza dos órgãos[refere-se a Teresópolis]...”. Depois da visita a Nova Friburgo a Condessa de Barral seguiu para Fazenda do Gavião, em Cantagalo, certamente a convite do filho do Barão de Nova Friburgo.
D. Pedro II se referiu com carinho em sua correspondência ao período em que passou com sua amante, em 1874, no Hotel Leuenroth em Friburgo, “olho sempre com imensas saudades para os quartinhos do anexo do Hotel Leuenroth”. No entanto, la condessa não teve o mesmo romantismo do Imperador e mesmo hospedada no Hotel Leuenroth, sequer fala do hotel em sua correspondência, lembrando os momentos passados. Definitivamente, ela não gostou de Nova Friburgo. Talvez por ter passado boa parte de sua vida em Paris, os lugares pacatos, mas de deslumbrante beleza, tenham tirado a sensibilidade da casmurra Condessa de Barral.
Muito interessante e curioso