A vila de Nova Friburgo foi criada em 1820 para abrigar uma colônia de Suíços. A localização da colônia na serra dos Sertões do Macacu possivelmente deve-se a dois fatores: um clima muito próximo ao da Suíça para abrigar os colonos e ainda para servir como ponto de parada dos tropeiros que transportavam o café de Cantagalo, que já dava sinais de prosperidade. Inicialmente havia na vila somente o antigo casarão, sede da Fazenda do Morro Queimado, cem casas para abrigar os colonos suíços, uma casa para a inspeção da vila, uma botica, uma olaria, um moinho, fontes para abastecimento de água, um forno de assar pão e um para fazer telhas. As residências dos suíços foram edificadas em três pontos no centro da vila: ao redor da Praça do Pelourinho, batizada pelos suíços de Village de cima, atual Praça Marcílio Dias; outro conjunto de casas junto a Praça Primeiro de Março que os suíços denominaram de Village de baixo, formando o bairro Vilage. O núcleo mais importante era o formado ao redor da Praça Getúlio Vargas, outrora denominada de Praça Princesa Izabel, onde prédios públicos e novas residências irão se edificando. Em 1861, o Governo da Província do Rio de Janeiro adquiriu o terreno situado próximo a Praça Princesa Izabel para edificar a igreja Matriz. Ao ser concluída em 8 de dezembro de 1869, tornou-se um símbolo na paisagem que compõe a praça. A vila de Nova Friburgo se desenvolve por ser local de passagem dos produtos agrícolas das fazendas de Cantagalo, que em boa parte do século 19, compreendia um território muito mais vasto, pois os atuais municípios do norte-fluminense faziam parte da grande Cantagalo. A prosperidade no plantio do café em Cantagalo teve reflexos na economia de Nova Friburgo, cujos habitantes vendiam seus produtos agrícolas aos tropeiros, a exemplo do milho para alimentar as tropas, prestavam serviços como ferreiros e davam-lhes rancho. Freguesias como a de São José do Ribeirão e N. S. Paquequer dão a Nova Friburgo igualmente vigor econômico, terras boas para o plantio do café.
Paralelamente Nova Friburgo recebia constante número de indivíduos que vinham se curar da tuberculose, devido ao clima salubre de suas montanhas. Essa circunstância acarretou o incremento de uma rede hoteleira que se ampliaria ainda mais a partir de meados do século 19, pois além da cura da tuberculose, Nova Friburgo seria procurada pelos cariocas que fugiam das epidemias de febre amarela no Rio de Janeiro. No último quartel do século 19, Nova Friburgo ganha uma linha de trem que impulsiona ainda mais o turismo. Com a inauguração da linha de ferro Leopoldina Railway, em junho de 1873, a ferrovia reduziu o tempo de viagem do Rio de Janeiro para a Vila de Nova Friburgo de 4 dias para 4 horas, aumentando ainda mais o turismo com a introdução do trem de passeio. A rede hoteleira se amplia e melhora cada vez mais as suas instalações para atender aos exigentes turistas, a exemplo da família do jurista Rui Barbosa, dos barões do café do norte-fluminense, jornalistas e escritores como Machado de Assis, entre outros. A construção do estabelecimento hidroterápico do reconhecido médico Carlos Eboli e seu grandioso hotel em estilo neoclássico coloca Nova Friburgo no roteiro turístico e balneário da elite fluminense. Nesse momento, tornam-se necessárias melhorias nos espaços públicos da cidade, como era o caso da Praça Getúlio Vargas que estava no centro da vila.
Além da Praça Getúlio Vargas, outrora Praça Princesa Izabel, a vila de Nova Friburgo possuía outras praças: a Praça do Pelourinho, atual Marcílio Dias; a Praça Uruguayana, atual Praça do Suspiro; Praça Visconde de Itaborahy, atual Monte Líbano; a Praça Primeiro de Março, no bairro Vilage e Praça da Alegria, atual PMNF. A praça de maior importância em termos de espaço de sociabilidade entre os friburguenses, em fins do século 19, era a Praça do Suspiro. Deve-se a isso à sua fonte, a Fonte do Suspiro, cujas águas evocavam além da cura de certas doenças, o romantismo: amor, saudade e ciúmes. Não havia turista que visitasse Nova Friburgo que não tivesse em seu álbum uma foto nessa fonte. No entanto, mesmo sendo a Praça do Suspiro a mais importante, havia interesse de duas pessoas no aformoseamento da Praça Getúlio Vargas: o médico higienista Carlos Éboli e Bernardo Clemente Pinto, o segundo barão de Nova Friburgo. Ambos possuíam propriedades nas proximidades dessa praça. O médico Carlos Éboli, o estabelecimento hidroterápico e o Hotel Central e o segundo barão o magnífico solar, cujos fundos se estendia às margens do Rio Bengalas. A Praça Getúlio Vargas, em fins do século 19 apresentava-se com grandes vazios, sem árvores e sem vegetação. Até então, a praça servia como mercado e para a instalação de tanques de captação de água dos córregos. Igualmente como rancho de tropeiros, local de parada das tropas que conduziam o café de Cantagalo rumo ao Rio de Janeiro. Com o aumento do turismo as praças começam a ser ajardinadas, o mercado transferido para outro local e o rancho dos tropeiros proibido em suas imediações. Altera-se a função da praça na vila, minimizando o uso comercial e passando a ser um espaço de sociabilidade. Como era do interesse de dois importantes empresários da cidade, o médico Carlos Eboli e o segundo barão, nada menos que o paisagista do imperador D. Pedro II ser convidado para projetar e executar o jardim da Praça Getúlio Vargas: Auguste François Marie Glaziou. Glaziou já tinha uma relação com a vila de Nova Friburgo. Coube à ele o projeto paisagístico dos jardins da Chácara do Chalet de propriedade do barão do Barão de Nova Friburgo, que atualmente pertence ao Nova Friburgo Country Club. Glaziou fez os jardins da chácara do chalet edificado aproximadamente em 1860, pelo arquiteto alemão Karl Frederich Gustave Waehneldt.Há uma perfeita simbiose entre o jardim de Glaziou e o espaço interior do chalet criado por Karl Frederich. Mas quem era o paisagista da Praça Getúlio Vargas? Auguste François Marie Glaziou nasceu na França em 1833, engenheiro civil formado pela École Polytechinique D`Angers. Veio para o Brasil a convite de D. Pedro II, em 1858, para ocupar o cargo de Diretor Geral das Matas e Jardins na cidade do Rio de Janeiro. Permaneceu no Brasil até o ano de 1897, quando voltou para a França, falecendo em 1906. O final do século 19 é caracterizado pelas políticas higienistas e projetos de embelezamento. O imenso vazio da então Praça Princesa Izabel incomodava o médico e vereador Carlos Eboli que desejava prover aos turistas e aos hóspedes de seu hotel um espaço de lazer. Esse projeto contou com o apoio do segundo barão, Bernardo Clemente Pinto que tinha interesse no aformoseamento da praça. Carlos Éboli foi um grande incentivador do paisagismo da Praça Getúlio Vargas. Napolitano, nascido em 1832, formou-se em medicina pela Faculdade de Paris. Sua educação na capital francesa o tornou familiarizado com as reformas empreendidas pelo barão Haussmann. Era influenciado pela medicina higienista e trabalhos ligados ao uso do jardim como melhoria da qualidade de vida de uma cidade.
Na vereança de 1877 a 1883, o médico Carlos Éboli solicitou a presença de Glaziou na execução do projeto de paisagismo da Praça Getúlio Vargas. O segundo Barão de Nova Friburgo foi o responsável pela vinda de Glaziou, que planejou e executou os trabalhos, gratuitamente. O barão despendeu 10 contos de réis na praça e não quis ser ressarcido pela Câmara de tal quantia, doando-a a municipalidade. Carlos Éboli e Glaziou escolheram a espécie do eucalyptus robusta pela crença de que estas árvores tinham a função utilitária de drenar o solo pantanoso e igualmente de purificar o ar combatendo os supostos miasmas que se desprendiam do solo. Prospera em terrenos brejosos onde quase nenhuma outra espécie se desenvolveria, além de resistir muito bem a geadas. Era considerada pelos botânicos da época como uma das mais belas espécies de eucalipto graças a abundância de sua folhagem e pela grande copa arredondada, de grande beleza ornamental. Anteriormente, na vereança de 1853-57, resolveu-se plantar árvores que produzissem sombra no centro da vila. A árvore escolhida foi o pinheiro(araucária angustifolia). No entanto, essas araucárias não sobreviveram por muito tempo na paisagem da cidade. Logo, a eucalyptus robusta atendia as necessidades tanto de drenagem do solo do centro da vila de Nova Friburgo, que era alagadiço, como igualmente a de purificação do ar. Na ocasião, acreditava-se que doenças como a febre amarela vinham do ar, dos miasmas, e por isso incentivava-se o plantio de árvores para purificar a atmosfera. A teoria microbiana derrubou a teoria dos miasmas, ou seja, descobriu-se que as doenças provinham dos micróbios e não do ar. No entanto, quando a da Praça Getúlio Vargas foi planejada a teoria dos miasmas estava em voga, e daí a escolha desses eucaliptos.
“Os eucaliptos(...)são aconselhados para o saneamento de regiões paludosas, pelas suas propriedades febrífugas, e muitas plantações tem sido feitas exclusivamente com esse intuito. Dizem mesmo alguns autores que o clima é salubridade notável onde abundam as florestas de eucaliptos(...) mesmo que as localidades pantanosas e doentias, onde se fizeram plantações de eucaliptos, melhoram consideravelmente, a ponto de desaparecerem completamente as febres(...) Chegam a asseverar que os eucaliptos purificam o ar pelas suas exalações balsâmicas e que, pela sombra que projetam sobre os terrenos úmidos, furtando-os a ação do sol intenso, evitam o desprendimento de miasmas paludosos.”
As obras da Praça Getúlio Vargas têm início em 1880. O modelo utilizado era o jardim romântico, realizada segundo os moldes dos jardins franceses do século 17. As características dos jardins românticos resumidamente são: serem marcados por extensos gramados, pequenos bosques, caminhos em curvas suaves, arbustos ou árvores isoladas, ruas amplas e cômodas, riachos e rochas artificiais e quiosques. A origem do jardim romântico vem da China, mas somente se tornou conhecido na Europa, no século 18.
A Praça Getúlio Vargas possuía dezoito mil e quinhentos metros quadrados. Era formada em três praças distintas e um largo: Praça de São João, Praça D´El Rei Dom Manuel, Praça do Príncipe Real Dom Pedro e Largo do Mercado. Foi dividida por Glaziou em três segmentos proporcionais, cortadas por continuações das ruas que eram perpendiculares à praça, sendo que dois córregos capeados serviram como limites naturais nessa divisão. A primeira parte com cinco mil e seiscentos metros quadrados, localizava-se em frente a casa do segundo barão de Nova Friburgo, começando na Rua General Pedra(atualmente as Ruas Farinha Filho e Dante Laginestra) por onde passava um córrego e estendia-se até as ruas do Conde D`Eu(atualmente Ruas Monsenhor Miranda e Ernesto Brasílio) onde igualmente passava um córrego. A segunda parte da praça estendia-se do limite do segmento anterior até a Rua Gal.Andrade Neves(atualmente ruas Luiz Spinelli e Galeano das Neves). Finalmente a terceira parte começava do limite do segmento anterior até a Rua do Riachuelo(atualmente Rua Francisco Miele). Glaziou plantou eucaliptos nos três segmentos da praça, cada uma com dois renques laterais. Utilizando o mesmo alinhamento dos eucaliptos, plantou do lado direito bunganviles e do lado esquerdo outra fileira de árvores, de espécie desconhecida.
As obras da praça foram concluídas em 1881. O projeto de Glaziou teve a direção técnica de Carlos Engert, outro grande hoteleiro que possuía o Hotel Engert e o Hotel Leuenroth, ambos próximos a praça. Luís Pires de Farinha Filho seria o sucessor de Glaziou no paisagismo das demais praças da cidade. O traçado original da Praça Getúlio Vargas foi mantido até aproximadamente a década de 1890, ou seja, até oito anos após executado o projeto. No entanto, até o ano de 1918, nas comemorações do centenário de Nova Friburgo, em linhas gerais, o projeto de Glaziou ainda mantinha-se intacto, apresentando somente problemas relativos à sua conservação. Durante a gestão de Galdino do Valle Filho a praça passou a ser denominada de Praça 15 de Novembro. Ele prolongou a praça até em frente a catedral São João Batista, até então um espaço vazio. Esse prolongamento da praça apresentou a mesma linearidade das alamedas do projeto de Glaziou, mas com uma vegetação de menor porte, um coreto, a estátua comemorativa do centenário da cidade e quatro estátuas das estações do ano. Baseando-se nos referenciais dos jardins românticos, com características orientais de construção, como o estilo chinês e mourisco, foram edificados na terceira parte da praça um cinema em estilo mourisco e um coreto em estilo pagode chinês. Tempos depois um rink de patinação. Edifícios como a casa dos Salusse, Hotel Salusse, Pensão Nascimento, Hotel Cassino Turista, a igreja Matriz de São João Batista, o solar do Barão de Nova Friburgo e o Grupo Escolar Ribeiro de Almeida emolduravam a praça em 1920. A Praça Getúlio Vargas foi tombada pelo IPHAN, em 1972, pelo seu conjunto arquitetônico e paisagístico. Além do aspecto material existe ainda a imaterialidade que essa praça possui. Além da praça constituir patrimônio cultural de natureza material, devido ao seu conjunto arquitetônico, é igualmente imaterial, lugar onde se concentram e se reproduzem as práticas culturais coletivas. Uma miríade de histórias gira em torno dela, como a divisão de classes sociais nos quais suas alamedas eram demarcadas para passeios dos ricos e dos pobres; por onde passavam o trem vassourinha, que varria as moças decentes ao cair da noite e os passeios depois do cinema. A Praça Getúlio Vargas acompanhou os acontecimentos políticos alterando o seu nome conforme os ventos revolucionários: Foi monárquica chamando Praça Princeza Isabel, a seguir republicana, sendo chamada de Praça 15 de Novembro. Com a Revolução de 30, passou a denominar-se de Praça Getúlio Vargas. A tragédia ambiental de 2011 derrubou prédios na cidade, mas os eucaliptos da Praça Getúlio Vargas resistiram. Ainda que sob protestos da população grande parte dos mais que centenários eucaliptos foram derrubados por determinação do governo municipal na gestão 2015. Esse acontecimento vem sendo visto pela população friburguense como a segunda maior tragédia em Nova Friburgo, depois da ocorrida em 2011. Com a derrubada de grande parte dos seus mais que centenários eucaliptos, inúmeras pessoas vêm buscando fotos antigas da praça arborizada para resgatar a sua memória. Será somente dessa forma que daqui por diante poderemos reconstituir a sua outrora pujante beleza: através de antigas fotografias.
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