Segunda década do século 20. Moysés Segal chega ao Rio de Janeiro com a sua esposa, proveniente da Romênia. Judeu, fugia da perseguição nazista na Europa que ganharia força paulatinamente na medida em que Hitler ascendia politicamente até se tornar o chancelar da Alemanha. O casal Segal não consegue se adaptar ao clima quente do Rio de Janeiro e foi-lhes recomendado a salubre cidade serrana de Nova Friburgo, de clima muito próximo ao da Europa. Nova Friburgo fora, em princípios do século 19, escolhida justamente pelo seu clima similar ao europeu para abrigar colonos suíços provenientes da Confederação Helvética. Moysés Segal decide residir nessa aprazível cidade serrana. Como mascate, poderia perfeitamente deslocar sua atividade laboral para qualquer lugar. No entanto, uma informação nada lhe agradou: foi-lhe dito que havia muitos simpatizantes do nazismo em Nova Friburgo.
Desde 1911, Nova Friburgo vinha recebendo investimentos de empresários alemães. Peter Julius Ferdinand Arp, Maximilian Wilhelm Bogislav Falck e Carl Ernst Otto Siems implantaram indústrias têxteis que alavancariam posteriormente setores de artefatos de couro e metalúrgico. Esses empresários vinham cooptando muitos técnicos vindos da Alemanha para trabalhar em suas indústrias, uma mão de obra especializada para lidar com o complexo maquinário no qual a pacata cidade veranista de Nova Friburgo não lhes poderia fornecer. Igualmente muitos desses alemães eram antigos prisioneiros de guerra instalados no Sanatório Naval. Na Primeira Guerra Mundial alguns navios mercantis de bandeira alemã foram detidos no Brasil e seus tripulantes presos, ficando uma parte detida no Sanatório Naval. Alguns deles foram cooptados para trabalhar nas indústrias locais. Um deles foi Richard Hugo Otto Ihns que se tornaria o maior executivo da Rendas Arp.
Otto Ihns integrou o partido nazista de Nova Friburgo. Por outro lado, Nova Friburgo recebera imigrantes italianos no final do século 19. Essa comunidade era a mais expressiva entre os imigrantes sendo constituída por comerciantes que prosperaram na cidade serrana. Estavam lançadas as bases para o surgimento de um movimento nazi fascista em Nova Friburgo em razão da presença significativa de imigrantes alemães e italianos. Igualmente o movimento integralista ganhara força entre os profissionais liberais tendo o professor Júlio Caboclo como principal arauto, defensor da pureza da raça ariana. Foi essa a Nova Friburgo que Moysés Segal encontrou quando decidiu residir nesse município, no ano de 1924. Moysés Segal chegou a Nova Friburgo exercendo inicialmente a atividade de mascate e anos depois abriu a loja denominada de Casa Franceza, uma elegante loja de artigos femininos que vendia desde acessórios de roupas até joias. Diversificando as atividades para a construção civil com o passar dos anos, os Segal se tornaram uma das famílias mais prósperas do município. No entanto, quem iria sentir mais amiúde a perseguição nazista seria Jayme Segal, filho de Moysés Segal. Para ficar em apenas um exemplo do clima de tensão da época, no Hotel Garlipp, cujo proprietário era um dos alemães detidos no Sanatório Naval, havia uma inscrição na porta do estabelecimento com os seguintes dizeres: “Nesse hotel não entra nem cachorro e nem judeu”.
Apesar do grupo nazi fascistas, Jayme Segal transitou bem entre eles. Fundada em 1921, a Sociedade Alemã de Escola e Culto, que abrigava muitos nazistas, admitiu-o entre os sócios. Anos mais tarde, Segal manteve relações amistosas com os Garlipp, mas essa passagem o marcou profundamente. Curiosamente quando me dirigia com Jayme Segal a caminho de sua residência para realizar uma entrevista encontramos Richard Ihns filho, na Praça do Suspiro. Uma parada para os cumprimentos. Pude perceber que Jayme Segal e Richard Ihns são velhos amigos e que a animosidade do período do movimento nazista em Nova Friburgo, em que o pai de Richard Ihns fora protagonista, desapareceu com o tempo. Por mais que traga desconforto certos episódios do passado, inclusive com a citação de famílias muito queridas em Nova Friburgo, a exemplo dos Garlipp, esses acontecimentos devem ser trazidos à memória para que sirva de referência às gerações futuras.
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