O século 19, ficou sendo conhecido entre os historiadores nacionais como o “século inglês”. A aliança política e comercial entre Portugal e a Inglaterra vinha se renovando, através de tratados, desde 1346. Os ingleses, além de serem os poucos empresários estabelecidos em território português, igualmente emprestavam ajuda militar, treinando tropas portuguesas e servindo como seus comandantes. Era a mais duradoura aliança já estabelecida entre dois países europeus. Os ingleses ameaçaram D. João VI de iniciarem missões exploratórias nas colônias portuguesas, inclusive no Brasil, caso o rei cedesse às pressões dos franceses. Além das ameaças, as estreitas relações históricas entre Portugal e a Inglaterra se refletiram na posição tomada por D. João VI em ficar ao lado do Império Britânico, contrariando Napoleão Bonaparte que exigia uma aliança com os portugueses. Após a escolta da Corte Portuguesa ao Brasil, a aliança com a Inglaterra se consolidará ainda mais. As relações econômicas, políticas e culturais do Império Português com a Inglaterra irão se refletir no Brasil. Em 1808, D. João VI foi compelido a abrir os portos às nações amigas, preferencialmente à Inglaterra, dando início às relações anglo-brasileiras. A presença dos ingleses será bem expressiva no Brasil. O cronista Machado de Assis, avesso à invasão das estrangeirices na gastronomia, critica a introdução do roast beef, do croquete e do sandwich ingleses. É com sarcasmo que comenta a influência inglesa nos hábitos da elite: “Há dez ou quinze anos, penetrou nos nossos hábitos um corpo estranho, o bife cru. Esse anglicismo, só tolerável a uns sujeitos como os rapazes de Oxford, (...)além de não quadrar ao estômago fluminense, repugna aos nossos costumes e origens. Não obstante, o bife cru entrou nos hábitos da terra. (...) A grande maioria acode às urgências do estômago com o sanduíche, não menos peregrino que o bife cru, e não menos sórdido; ou como o croquete, estrangeirice do mesmo quilate...” Em razão dessas relações, os ingleses desfrutavam de privilégios políticos comerciais no Brasil. Os ingleses somente poderiam ser julgados por juízes ingleses. A partir de 1810, a Inglaterra passou a sentir os efeitos do bloqueio continental imposto por Napoleão Bonaparte, ocorrendo uma econômica crise no país por falta de mercado. Por conseguinte, houve uma invasão de produtos ingleses no Brasil retardando nosso processo industrial. Éramos obrigados a importar colchões, sapatos, patins para gelo e até mesmo caixões. Proibiram as gelosias, sob pretexto de esconderem criminosos, para obrigar a importação do vidro da Inglaterra. Madeiras nobres como o jacarandá e o vinhático de nossas matas estavam autorizadas a serem derrubadas para suprir a indústria naval inglesa. Não se vendia para o Brasil equipamentos industriais para que ficássemos eternamente dependentes de seus produtos. No Tratado de Comércio e Navegação, abaixou-se a taxa alfandegária de 24% para 15% para os ingleses. A dos produtos portugueses era de 16%. O café e o açúcar produzidos pelo Brasil eram proibidos de entrar na Inglaterra para não concorrer com produtos de suas colônias. Ironicamente o escritor Francisco de Mariscal escreveu, na ocasião, que “qualquer nação deve temer mais um escritório inglês em seu país do que todas as peças de artilharia inglesa”. A influência inglesa chegou a Nova Friburgo. Tivemos um dos mais importantes estabelecimentos de ensino de nossa história, o Instituto Colegial Freese, do inglês John Henry Freese. O britânico fundou o colégio no centro da vila, em 01 de julho de 1841. Era considerado uma referência em todo o território nacional, formando os filhos da elite econômica do país. A biblioteca do colégio era comparável a dos melhores estabelecimentos de ensino na Europa. Os barões de café do centro-norte fluminense necessitavam de um meio de transporte mais eficiente do que as tropas de mulas que serpenteavam as encostas íngremes da Serra do Mar. De tecnologia inglesa, a linha férrea foi substituindo, em muitas partes do país, as tropas de mulas. A ferrovia foi inaugurada no Brasil por D. Pedro II, no dia 30 de abril de 1854. Fotografias vêm sendo levantadas e identificadas no processo de liquidação da RFFSA, sendo de extremo valor as imagens da empresa inglesa The Leopoldina Railway Company Limited, que atuou no Brasil no período de 1898 a 1949. Com esse acervo, os pesquisadores poderão contar não somente a história dos ramais ferroviários, mas igualmente dos processos de ocupação, costumes das cidades, cenas na família ferroviária, formas de sociabilidades, entre outros aspectos.
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