O título da matéria pode parecer estranho aos amantes da memória do trem no Brasil, mas logo explico. Certa ocasião, dirigindo um documentário na Estação de Trem Visconde de Itaboraí, conhecida como Visconde, uma prostituta que residia no outrora escritório da estação se aproximou de mim. Ela estava intrigada e queria saber por que eu estava fazendo imagens de um lugar tão sujo e insalubre como a estação de Visconde. Para quem não conhece a antiga estação ela está totalmente abandonada, os ambientes internos repletos de fezes de pombos e de animais mortos. O ambiente é tão insalubre que sequer havia sido ocupado por indigentes como normalmente acontece em locais abandonados. Feita a indagação respondi à espirituosa prostituta que era de meu interesse fazer imagens daquela estação ainda que estivesse em péssimo estado de conservação. Foi então que ela me disse algo que jamais esqueci. Naquele momento da vida, ela se sentia como aquela estação, abandonada. Ela escrevera um texto que me deu em que dialogava com a estação. Reproduzo aqui um pequeno extrato. “Ela(refere-se a estação) me disse sorrindo, entristecida, um dia eu já tive vida, muitos passaram aqui alegremente, foram felizes” ao que a prostituta responde “eu também já fui nova e feliz e hoje sou abandonada e sofrida.” Ela estabeleceu uma comparação interessante. No passado aquele local era cheio de gente bonita e alegre e hoje se encontra totalmente sujo e largado. Ela também já fora um dia linda e desejada e agora se encontra fisicamente acabada. O diálogo é bem simples, mas o que me marcou foi a comparação da situação física daquele local com a sua decrepitude. O objetivo dessa matéria é trazer informação sobre as outrora estações de trem de Nova Friburgo e o destino de cada uma delas. Iniciemos pela Estação Nova Friburgo no centro da vila, na Rua General Argolo, atual Alberto Braune. O trecho da linha férrea subindo a serra foi inaugurado em 18 de dezembro de 1873, com a presença do Imperador D. Pedro II. Bernardo Clemente Pinto na ocasião foi agraciado com o título de 2° Barão de Nova Friburgo pelo desafio de ter trazido a linha férrea até a região serrana. O transporte ferroviário chega à Nova Friburgo em função das fazendas de café em Cantagalo pertencente à família Clemente Pinto. Já não era mais plausível que um produto de exportação com expressivo volume fosse transportado por tropas de mulas. Até então se misturavam passageiros e cargas no centro da vila, na Estação Nova Friburgo, o que já estava se tornando cada vez mais inconveniente. Em razão disso, em 15 de junho de 1933, foi inaugurada uma estação somente de carga na Chácara do Gambá, denominada de Estação Friburgo-Cargas e que hoje abriga o 11° Batalhão da Polícia Militar. Dois anos depois o prédio da Estação Nova Friburgo foi demolido dando lugar a uma estação mais elegante, em estilo colonial e inaugurado em junho de 1935. Infelizmente sua fachada foi modificada com a supressão de seus alinhados arcos e hoje abriga a Prefeitura Municipal de Nova Friburgo. Outra estação de trem era a Estação do Rio Grande, atual Riograndina, inaugurada em primeiro de maio de 1876. As terras férteis banhados pelo Rio Grande fizeram da região um importante produtor de milho, feijão, mandioca, entre outros produtos. Dessa estação seguia-se para os municípios da região serrana como Bom Jardim, Macuco, Cordeiro, Cantagalo, etc. A Estação do Rio Grande abriga atualmente um Ponto de Cultura e está muito bem conservada, com destaque para a ponte de ferro. O distrito de Conselheiro Paulino era outrora um latifúndio denominado de Fazenda da Ponte de Tábua. O desmembramento da Fazenda da Ponte de Tábua deu origem a pequenas propriedades rurais que se dedicavam a lavoura branca. Para o escoamento dessa produção agrícola a região foi contemplada com uma estação de trem que leva o nome de um importante político saquarema, Conselheiro Paulino. A estação ferroviária foi inaugurada em 1889, cujo trecho seguia para Sumidouro até alcançar o município de Além Paraíba. Era a nossa ligação pela via férrea com o Estado de Minas Gerais. Era situada em frente ao campo de futebol do pastão, mas a estação não existe mais. Havia também uma pequena parada no alto da serra denominada de Estação de Mury e que servia para escoar os produtos da lavoura dos agricultores de Lumiar e São Pedro da Serra. As estações eram também um espaço de sociabilidade para assistir às chegadas e partidas dos trens. Era um programa da família inteira principalmente nos dias do trem de passeio. Tombadas como patrimônio histórico, as estações de trem são lugares de memória da velha maria fumaça.
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