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Foto do escritorJanaína Botelho

BATALHA DAS FLORES, ENTRUDO E O ZÉ PEREIRA: “VOCÊ ME CONHECE?”




Salve, Carnaval!/Esperar pelo folguedo/Um ano, não é brinquedo../(...)Enfim, chegou o tal, suspirado carnaval./Cloriforme virgulado, virá ele, com micróbios?/ Digam os sábios ambrosios/ se o sobredito traz mal?/ Se o cujo está constipado/ e preso sobre o costado/conduz a constipação./Dê-se uma polvilhada/água de seringada/ completa desinfecção.” Esta foi uma das músicas cantada nas ruas de Friburgo, no carnaval de 1895. Percebe-se uma ironia à política higienista empreendida pela Câmara Municipal, que era administrada em sua maioria por médicos. Mas o carnaval era assim, um momento para citar os denominados “ditos espirituosos” e os friburguenses percorriam a cidade para ouvir a “idéia e a pilhéria” que normalmente criticavam o governo em relação aos bonds que não chegavam, o projeto de luz elétrica que não saía do papel, o imposto da décima urbana, nosso IPTU de hoje, a iluminação precária dos lampiões ou a campeã das reclamações, a Companhia de Trem Leopoldina. Logo, os foliões friburguenses adoravam ouvir os grupos carnavalescos, como os caninhas verdes, que percorriam as ruas da cidade cantando os “ditos espirituosos”. Era uma verdadeira catarse do povo contra os governantes da cidade. Ainda pelas ruas, retumbantes Zé Pereiras num zabumbar contínuo atroavam os ares com os ruídos de suas latas de querosene, destruindo os ouvidos da pobre humanidade. A escravidão mostrava sua permanência no carnaval de rua, pois um gaiato vestido de negra “Mina” tirava a sorte dos transeuntes, provocando gargalhadas da população. Grupos de rapazes e moças da sociedade percorriam as casas e o comércio, troteando e “pintando o padre”. O entrudo moleque ainda era praticado e a população munida de bisnagas, confetes e limões, divertia-se “pintando o sete”, não obstante o entrudo ter sido proibido em Friburgo, a partir do carnaval de 1895. O entrudo é um antigo folguedo carnavalesco em que os brincalhões molhavam-se reciprocamente lançando água de baldes, limões-de-cheiro, que consistiam em bolas de cera, alguns contendo até urina, ou atiravam farinha uns aos outros. Depois fez-se uso de bisnagas, que substituíram os limões de cera. Essa prática foi popular em Portugal, mas, sobretudo no Brasil, até 1845, quando a brincadeira ficou sujeita a proibições mais rigorosas. No carnaval de rua, havia ainda a Batalha das Flores, realizada na Praça do Suspiro, sendo promovida pela elite da cidade ou no dizer dos jornais da época, o que havia de “seleto e distinto em nossa sociedade”. A Batalha das Flores tinha este nome porque os “carros” puxados a cavalo eram ornamentados por inteiro com flores artificiais e naturais como orquídeas, rosas, papoulas, camélias ou cravos, estas duas últimas muito comuns na cidade. Estes ornamentos de flores tinham formas de animais, como um cisne, borboletas, motivos de mar ou estilo japonês. O “carro” da família Rui Barbosa era um char á bancs, bouton d´or em feuillage, trés distingue, dizia o jornal. Já “carro” dos descendentes do Barão de Nova Friburgo era uma delicada corbeille blanche de camélias. Era “uma verdadeira tetéia”. Depois do desfile pelas ruas, damas e cavalheiros digladiavam-se em animada e ardente batalha atirando uns aos outros as flores dos “carros”, ao som das “furiosas” bandas de música. E ainda havia os anônimos mascarados que enchiam a paciência dos foliões com aquela incessante e enjoada pergunta: “Você me conhece?”

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