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Foto do escritorJanaína Botelho

A HIDROTERAPIA: A CURA PELA ÁGUA



A hidroterapia, terapêutica pela água fria, já era conhecida e empregada nos séculos passados. Deve-se a Eduard Hallmann (1813-1855), de Hanover, Alemanha, o estudo científico da hidroterapia. No entanto, como método baseado em princípios racionais e científicos foi adotada pela primeira vez no século XIX, na Europa, por Vincenzi Priessnitzovi(1799-1851). Priessnitzovi nasceu em Gräfenberg, que atualmente faz parte da República Checa. Em 1827, fundou um estabelecimento hospitalar destinado ao tratamento de doenças crônicas onde a água fria era a única terapêutica adotada. Priessnitzovi encontrou adeptos em várias partes do mundo e o método terapêutico da hidroterapia ficou conhecido e praticado em toda a Europa e fora dela. No livro Meine Wasserkur “Meu Tratamento pela Água”, publicado em 1887, pelo clérigo Sebastian Kneipp, o sacerdote alemão ensinou que a água fornecia à força vital humana elementos de combate a diversas enfermidades, tais como bronquites, reumatismo, neurastenia, etc. A terapêutica hídrica encontrou adeptos principalmente entre os pacientes das classes abastadas. No Brasil, um dos primeiros e principais prosélitos foi o dr. Antônio Ildefonso Gomes(1794-1859), cirurgião, estudioso de botânica e tão devotado ao sistema que até ganhou, no Rio de Janeiro, o cognome de “Doutor da água fria”. Publicou em 1848, o seguinte trabalho: “Manual de hidro-sudo-terapia ou diretório para qualquer pessoa em sua casa curar-se de uma grande parte das enfermidades que afligem o corpo humano, não empregando outros meios que suar, água fria, regime e exercício.”


Em Nova Friburgo, podemos atribuir a Gustavo Leuenroth, ex-mercenário alemão, a primeira “Casa de Banhos” em meados do século XIX. Com a hidroterapia preconizada por conceituados médicos nacionais e estrangeiros, possuindo uma base científica, apoiado por políticos e tendo como clientela as classes abastadas, era natural que se expandisse. Em Petrópolis, o francês Antonie Court instalou, em 1877, o Imperial Estabelecimento Hidroterápico, que o Imperador Pedro II frequentava amiúde. Já em Nova Friburgo, foi um italiano, natural de Nápolis, quem trouxe as qualidades terapêuticas da hidroterapia para a então vila. Tratava-se de Carlos Eboli(1832-1885), médico formado em 1856, pela Faculdade de Paris, sócio correspondente da Imperial Academia de Medicina. Eboli edificou, em Nova Friburgo, o que seria considerado o maior estabelecimento de hidroterapia da América Latina: o Estabelecimento Sanitário Hidroterápico.


Em 1872, inaugurou esse estabelecimento em sociedade com o médico Fortunato Correia de Azevedo. Utilizava as denominações de Casa de Saúde, Casa de Duchas, Casa de Banhos e como vimos, Estabelecimento Sanitário Hidroterápico. Não bastasse a ousadia de seu projeto, Eboli nos legou o lindo prédio em estilo neoclássico que é o Colégio N.S. das Dores. Nesse exato local, funcionava o Hotel Central, que na realidade, era o prédio principal, tendo como anexo o Estabelecimento Hidroterápico. O hotel possuía acomodações para 180 hóspedes. O Estabelecimento Hidroterápico tinha um escritório na Rua Primeiro de Março, no Rio de Janeiro, onde os clientes poderiam ter uma consulta com o Dr. Ribeiro de Almeida e obter igualmente informações sobre a hidroterapia. Foi o primeiro prédio na cidade a utilizar luz elétrica, isso quando a eletricidade só chegaria a Nova Friburgo mais de 30 anos depois. Um investimento de tal monta na então pacata vila de Nova Friburgo devia-se ao fato de o município já possuir notoriedade em relação às suas qualidades climáticas, salubridade e possivelmente fartos e notáveis mananciais de água, pois, do contrário, não se justificaria um estabelecimento de hidroterapia. Clima e saúde, eis um paradigma no inconsciente coletivo oitocentista. A hidroterapia era preconizada para a cura dos que sofriam de enfraquecimentos, dispepsias, moléstias nervosas, tuberculose, beribéri, reumatismo, bronquite e outras moléstias. O tratamento à base de hidroterapia, associada às qualidades do clima de Nova Friburgo, atraiu uma chusma de enfermos e turistas à cidade, sendo o mais ilustre de todos, o imperador D. Pedro II e a Princesa Isabel, que procurou a hidroterapia para se curar de sua suposta infertilidade.


Carlos Eboli faleceu em 1885, aos 53 anos de idade e, desde então, o estabelecimento passa a enfrentar dificuldades financeiras mesmo com a administração de novos sócios. A Marinha do Brasil pretendeu adquirir esse prédio, pois já fazia uso da hidroterapia para a cura de seus marujos vítimas do beribéri. No entanto, Rui Barbosa, que era frequentador habitué em Nova Friburgo, solidarizou-se aos friburguenses que não desejavam um “centro de peste” na cidade salubre e advogou contra tal aquisição. No entanto, em 1895, dez anos após a morte de seu timoneiro, Carlos Eboli, o Estabelecimento Hidroterápico e o Hotel Central entram em processo de falência e são penhorados pelo Banco Comercial do Rio de Janeiro, através de uma Ação Hipotecária. Como sabemos, hoje pertence à Irmandade de N. S. das Dores, que manteve apenas o prédio do hotel. A hidroterapia faz parte de uma importante fase da história da medicina no mundo, em que se atribuía a cura de diversas doenças à utilização desse método, numa época em que a ciência médica dava os seus primeiros passos. E Nova Friburgo pode se orgulhar de ter escrito um capítulo dessa importante parte da história da medicina.



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